Em 1983, a série “AutoMan” surpreendeu os espetadores do canal de TV ABC com um protagonista que era um misto de humano e computador e que tinha a particularidade de fazer curvas em ângulo reto num carro desportivo. Quase 30 anos depois, o nome AutoMan volta a dar que falar: mais uma vez o foco das atenções é um misto de humano e máquina, mas desta vez não se trata de uma ficção científica de domingo à tarde, mas sim de um projeto de investigação que tem por objetivo criar a próxima geração de gestores, empresários e líderes de empresas, que distribuem tarefas pelos humanos e os recompensam de acordo com o trabalho que executam.
Ainda não se sabe o que pensam os sindicatos sobre os patrões feitos de inteligência artificial e crowdsourcing, mas já é possível ter uma primeira apreciação do criador do sistema, Daniel Barowy, em declarações para o site da NewScientist: «As pessoas acabam por gostar porque sabem que é imparcial».
O AutoMan não tem partido, clube, paixonetas ou ódios de estimação, nem pode ter. Afinal este “boss 2.0” mais não é que um algoritmo que recorre a plataformas de crowdsourcing de forma automatizada para lançar reptos e desafios aos humanos. Não adianta enviar currículos ou cunhas: o algoritmo não discrimina nem valoriza nenhum dos candidatos – o que pode ser visto como uma injustiça para os especialistas mais experientes, mas também abre caminho a candidatos que desenvolveram conhecimentos fora do circuito académico e empresarial.
Para AutoMan o que conta é a qualidade do trabalho – venha ele de onde vier. Como qualquer chefia humana, este algoritmo também tem dúvidas. E quando assim é mantém o repto ativo até que um humano consiga apresentar a resposta mais adequada. À semelhança dos chefes de carne e osso, o algoritmo também mantém a prerrogativa de remunerar os trabalhos de acordo com a qualidade e a prontidão apresentadas.
Ainda não chegou a hora de o algoritmo criado por Barowy se sentar no cadeirão da administração – mas o conceito já começou a dar mostras de viabilidade na plataforma Mechanical Turk, que a Amazon criou com o objetivo de promover a partilha de tarefas pelas multidões. Nesta plataforma, o algoritmo apresenta questões e espera respostas dos humanos. A este ensaio juntou-se outro: o mentor do AutoMan também testou o algoritmo na app VizWiz como forma de apoio à recolha, na Internet, de descrições de fotos tiradas por cegos. O que confirmou a possibilidade de integrar este patrão artificial em aplicações tão simples como as que usamos nos telemóveis.
Barowy acredita que, mais do que mandar patrões para o desemprego, AutoMan promete abrir caminho a nova classes profissionais, que podem dar novo impulso à economia mundial. Pode ser excesso de otimismo, mas o investigador da Universidade de Massachusetts garante que, mais tarde ou mais cedo, os algoritmos vão assumir a liderança: «Uma forma de ver as coisas é que, pelo menos, o sistema reserva as partes do trabalho que são interessantes, criativas e divertidas para os humanos».
Fonte: Exame Informática
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