Uma hora antes do encontro entre os dois líderes para discutirem a reforma do Estado, Seguro publicou no Facebook o conteúdo da carta que enviou ao primeiro-ministro.
O secretário-geral do PS acaba de divulgar na sua página do facebook a carta que enviou ao primeiro-ministro e onde reafirma a "oposição do PS a qualquer revisão da Constituição da República ou outra iniciativa que coloque em causa as funções sociais do Estado" e lembra Passos que uma reunião para discutir o tema "não passa de uma encenação".
Na missiva, António José Seguro garante que o PS não recusa uma reunião formal com Passos e "ouvirá o que o primeiro-ministro tiver para dizer", o que levou já o chefe do Governo a marcar para o meio dia um encontro entre os dois. Mas lembra "com o respeito devido, mas com muita frontalidade" que se o primeiro-ministro considera, "como destacados dirigentes da maioria o têm verbalizado, que o PS é um partido irresponsável e que não tem alternativas a apresentar ao país, então estamos a perder tempo precioso e a reunião que propõe não passa de uma encenação".
Mantendo que "o diálogo político e institucional é uma das marcas identitárias do PS", Seguro atribui ao Governo a "exclusiva responsabilidade" por este diálogo ter sido "praticamente inexistente", lembrando que os socialistas foram sendo mantidos "à margem da condução de processos de enorme relevância para o interesse nacional", entre os quais, as cinco actualizações do memorando de entendimento.
Seguro acusa Passos e uma "conduta isolacionista" a atribui-lhe a responsabilidade pela situação "de enorme gravidade" que o país atravessa, devido à "austeridade excessiva".
A carta foi enviada na sexta-feira ao primeiro-ministro e Seguro garante agora, na mensagem que deixou no facebook, que só a divulga agora porque "ao contrário do Governo, que escondeu dos portugueses que já tem técnicos a trabalhar nas propostas de corte das despesas do Estado, eu sempre defendi processos transparentes".
Leia na íntegra a carta enviada por Seguro a Passos Coelho:
"Senhor Primeiro-Ministro
O diálogo político e institucional é uma das marcas identitárias do PS à qual permaneceremos fiéis e da qual não nos afastamos. Se o Primeiro-Ministro convida, formalmente, o PS para uma reunião, o PS não a recusa.
É esta conduta que temos adotado. Continuará a ser esta, em situações normais, a postura do PS no relacionamento com o senhor Presidente da República, com o Governo, com os partidos políticos e com os parceiros sociais. O diálogo é condição para o relacionamento institucional num regime democrático.
Por exclusiva responsabilidade do seu Governo, este diálogo foi praticamente inexistente, com claro prejuízo para o interesse nacional. O PS foi mantido à margem da condução de processos de enorme relevância para o interesse nacional, de que as cinco atualizações do Memorando de Entendimento, o envio para as instituições europeias do Documento de Estratégia Orçamental e o processo de privatizações são exemplos elucidativos.
O Primeiro-Ministro e o Governo adotaram uma conduta isolacionista e optaram por um caminho (da austeridade excessiva) profundamente errado, com os resultados conhecidos e com as consequências sociais e económicas desastrosas em que os portugueses vivem.
Por exclusiva responsabilidade do seu Governo, por ter ignorado as posições do PS (em defesa do crescimento e do emprego) e por ter aplicado a receita da austeridade excessiva, o país vive uma situação de enorme gravidade. Uma situação de pré-ruptura social. A situação mais grave em termos sociais, políticos e económicos desde a consolidação do nosso regime democrático.
O PS está aqui para assumir as suas responsabilidades e ouvirá o que o Primeiro-Ministro tiver para dizer, mas quero, com total clareza, reafirmar a oposição do PS a qualquer revisão da Constituição da República ou outra iniciativa que coloque em causa as funções sociais do Estado.
E é com a mesma clareza que reafirmo que o PS não está disponível para ser cúmplice da política do Governo. O PS opõe-se à política do Governo de austeridade excessiva e de empobrecimento do país.
E é ainda, com o respeito devido, mas com muita frontalidade que digo ao Primeiro-Ministro que se considera, como destacados dirigentes da maioria o têm verbalizado, que o PS é um partido irresponsável e que não tem alternativas a apresentar ao país, então estamos a perder tempo precioso e a reunião que propõe não passa de uma encenação.
Sugiro que os nossos dois gabinetes procedam ao acerto da hora e da data da reunião que o Primeiro-Ministro propõe e que da mesma seja dado conhecimento público.
Com a expressão dos meus melhores cumprimentos
António José Seguro"
Fonte: Económico
Nenhum comentário:
Postar um comentário