Beja tem agora novas instalações de uma escola do Politécnico que não tem alunos e que custou seis milhões de euros. A solução passa por oferecer o espaço a instituições de utilidade pública.
O secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, descerrou, na sexta-feira, na cidade onde nasceu, uma placa com o seu nome na inauguração da 2.ª fase do edifício da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja (ESTIG), consumando o acto que avalizava uma obra rodeada de forte contestação desde que o respectivo projecto foi aprovado, durante o primeiro Governo de José Sócrates.
O governante não disfarçou a surpresa quando viu o bloco escolar que ainda se encontra em fase de acabamentos, a fazer lembrar o Pavilhão de Portugal na Expo-98. "Estou impressionado", disse ele.
Contudo, o orgulho que alguns docentes expressavam quando observavam a "soberba pala" não era partilhado por Vito Carioca, presidente do Instituto Politécnico de Beja (IPB), que reafirmou a sua posição crítica sobre um empreendimento que custou seis milhões de euros. A estrutura está praticamente concluída, mas não há alunos para encher as suas salas, fazer uso dos laboratórios e dos sistemas informáticos.
"Todos sabem qual é a minha posição sobre esta obra", recorda o presidente do IPB. "Se fosse um projecto do meu tempo [Vito Carioca foi eleito para a presidência do instituto há pouco mais de três anos], não construía a segunda fase da ESTIG."
O docente já sentenciou: logo que estejam concluídas, e não havendo alunos para lhe dar uso, o edifício passa a ser um "espaço do país" e não um "espaço do instituto". A ideia é as instalações passarem a estar disponíveis para as instituições de utilidade pública que necessitarem de espaços. O Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Baixo Alentejo e Litoral é a primeira entidade a usufruir das vantagens que as novas instalações oferecem, uma decisão que colocou "muita gente" contra tal ideia, confessa Vito Carioca.
Quase metade das vagas por preencher
Ao PÚBLICO, um dos docentes considerou que os alunos "hão-de vir". Contudo, as perspectivas não são as mais animadoras. O presidente do IPB assume que está preocupado com o futuro daquele estabelecimento de ensino superior, sobretudo com a diminuição do número de candidatos e as desistências de alunos, pressionados pela falta de meios, que podem obrigar à redução de cursos e à dispensa de professores, um problema que é comum a todo o país.
Os dados divulgados recentemente pelo Ministério da Educação e Ciência sobre o número de vagas que ficaram por preencher na 2.ª fase do concurso de acesso ao IPB revelam que das 424 que foram disponibilizadas apenas 243 foram preenchidas.
Os cursos da Escola Superior Agrária de Beja e da Escola Superior de Tecnologias e Gestão são os que revelam maior número de lugares por preencher, apesar de o instituto ter aberto ao regime pós-laboral.
As opções pelas ciências agrícolas nunca foram fortes em Beja, apesar do Alqueva e de a agricultura ser o motor económico da região. Eram os cursos da ESTIG que sempre recebiam o maior número de alunos.
Mesmo assim, esta escola nunca dispôs de instalações condignas. Desde que foi criada, nos anos 1990, as aulas eram leccionados em instalações provisórias, por vezes dispersas pela cidade. Em 1994, o então director-geral do Ensino Superior, Pedro Lynce, foi confrontado pelos alunos da ESTIG, durante uma visita que fez a Beja, os quais reclamavam o direito a dispor de novas instalações.A decisão arrastou-se até que no primeiro Governo de José Sócrates, em 2006, foi aprovada a construção da 1.ª fase da ESTIG. Houve protestos e movimentos partidários a reclamar mais instalações que as que foram aprovadas. O Governo de então não acedeu alegando que o bloco construído era suficiente.
Sem que se fizesse esperar, dois anos depois a tutela reconsidera e avança com o projecto de construção da 2.ª fase do projecto que foi inaugurado na passada sexta-feira.
Quando havia alunos, não havia escola. A escola faz-se e agora comparam-na ao aeroporto de Beja, que não recebe aviões.
Fonte: Público
Fonte: Público
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