Há já alguns meses que no Brasil se desenrola um caso que as mídias não deram importância de imediato, talvez por ser uma situação que tem acontecido com uma certa frequência na história do país, onde os índios lutam frequentemente contra fazendeiros pelo direito a suas terras, o que muitas vezes acaba em conflitos e mortes de índios. Porém, o caso da etnia Guarani-Kaiowá se tornou diferente.
Esses conflitos pela posse da terra continuaram durante toda a história do Brasil até os dias de hoje. Segundo o Censo 2010, o Brasil tem 817 mil índios, o que corresponde a 0,4% da população brasileira, mas esse número era diferente antes da chegada dos portugueses. De acordo com a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) a população indígena variava de 1 a 10 milhões, distribuídos pelo território nacional. O número de índios e o desaparecimento de tribos inteiras deveu-se aos conflitos com os portugueses, que usavam armas de fogo contra flechas e lanças dos índios para retirar suas terras e escravizá-los. Mas o que mais tirou a vida desses índios foram doenças simples como a gripe, que não havia no Novo Mundo antes de este ser colonizado.
Os índios Guarani-Kaiowá vivem no estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil. Esse estado produz carne bovina, muita soja e cana-de-açúcar, ou seja, culturas que necessitam de grandes áreas de terras. O desmatamento chegou às terras dos Guarani-Kaiowá, gerando conflitos e a expulsão dos índios. Esses conflitos acontecem de maneira desleal, segundo a “lei do mais forte”: os fazendeiros, na sua maioria, não podem usar armas de fogo e contratam homens armados, também chamados de “pistoleiros”, que obrigam os índios a sair de suas terras, ameaçando de morte aqueles que resistirem.
Quando a Justiça brasileira intervém nesses conflitos, os pistoleiros desaparecem e, junto com eles, as evidências que poderiam incriminar os fazendeiros. Esses fazendeiros geralmente têm contatos com deputados para estes facilitarem a situação e a justiça acabar ficando de seu lado.
Povo indígena decide cometer suicídio
O caso dos índios Guarani-Kaiowá começou a ter repercussão após a divulgação da carta de Pyelito Kue que narra a falta de esperança de seu povo pelo direito deles poderem viver na terra de seus ancestrais e, caso a justiça do Brasil não intervisse, haveria a morte de todos eles. Essa carta provocou uma forte indignação em algumas partes da sociedade do Brasil que começaram a protestar através de redes sociais e com isso acabou se juntando com entidades internacionais em favor da causa dos Guarani-Kaiowá. No último dia 30 de outubro o TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3a. Região) em São Paulo decidiu favorável pela permanência em 1 hectare até o final do procedimento administrativo de demarcação de área.
Esse caso ainda continua em andamento, porém existem outros índios que são obrigados a saírem de suas terras por causa do progresso brasileiro, como o caso da usina hidrelétrica de Belo Monte no estado do Pará que, quando pronta, beneficiará 60 milhões de pessoas além de expulsarem ou matarem 440 espécies de aves e 259 de mamíferos. Isso também afetará 952 índios que vivem da pesca do rio Xingu e que terão sua vazão reduzida.
Belo Monte: anúncio de uma guerra
O Brasil tem suas qualidades, porém peca por não dar o devido valor aos primeiros habitantes. Foram séculos de expansão territorial sem ter a preocupação de que havia não somente seres humanos, mas também um grande volume de informação histórica, cultural e até mesmo científica, já que muitas plantas medicinais estão dentro das florestas brasileiras, sendo do conhecimento ancestral desses índios.
Existem programas que auxiliam e apoiam os índios e suas tribos para que suas tradições não desapareçam e possam caminhar junto com a sociedade não indígena através da educação e saúde. Os índios são o maior patrimônio brasileiro, pois são deles uma parte da cultura, alimentação e até da língua, visto que eles influenciaram no português brasileiro. Se o Brasil tem multiculturalismo parte disso é graças aos índios, não obstante muitas vezes serem esquecidos. Se o Brasil quiser ter seu progresso não pode virar as costas aos seus habitantes.
Fonte: Voz da Rússia
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