Renato recebeu os jornalistas de sorriso rasgado, a partir do sofá no Bellevue Hospital, mal o juiz Ferrara proibiu fotos da videoconferência. No ecrã via-se o jovem de pijama azul. Sentado com o advogado ao lado, não falou nos 55 segundos da ligação em que a procuradora Maxine Rosenthal, a partir do Tribunal Criminal de Nova Iorque, revelou ontem o sentido da acusação – entre 25 anos a prisão perpétua, pelo homicídio em 2º grau de Carlos Castro. O juiz entendeu que os indícios são fortes e, até 1 de Fevereiro, quando o Supremo Tribunal de Nova Iorque decidir se será julgado, o jovem modelo irá para a cadeia. Sem direito a fiança. Basta receber alta médica da equipa de psiquiatras.
Conhecida a opção da procuradora, o grande júri também já reuniu – 23 eleitores escolhidos entre o povo de Nova Iorque. Votaram por maioria se Renato deve ser julgado pela acusação de homicídio em 2º grau – a deliberação segue por carta selada para o Supremo. E será ali que, dia 1, novo juiz toma a decisão final. Caso o júri decida pelo julgamento, o português pode declarar--se culpado ou inocente. Na hipótese de se considerar inocente, será julgado, e, caso se declare culpado, nem há julgamento: a pena entre 25 anos a prisão perpétua é imediatamente fixada.
Na audiência de ontem, pouco passava das 12h00 (17h00 em Lisboa), foi conhecido o depoimento do detective John Mongiello, da Polícia de Nova Iorque, que serve de acusação. E ficou a saber-se, pelas perícias médico-legais, que Carlos Castro morreu pelas 14h00 locais do dia 7, quatro horas antes de Vanda, ex--mulher do jornalista Luís Pires, confrontar o jovem na entrada do hotel. Durante todo esse tempo, Renato esteve com o cadáver dentro do quarto do Hotel InterContinental, depois de ter estrangulado, apunhalado com um saca--rolhas, espezinhado e atirado Carlos Castro de cabeça contra um ecrã de televisão. Segundo o detective Mongiello, "os testículos do senhor Castro foram cortados".
Renato Seabra está preso no hospital e já recebeu a visita da mãe por duas vezes, a última das quais anteontem. Ontem, pouco passava das 12h00 (17h00 em Lisboa), só o seu advogado, David Touger, falou, para pedir ao juiz que não autorizasse a recolha de imagens.
A ACUSAÇÃO
Tribunal Criminal da Cidade de Nova Iorque
O povo do Estado de Nova Iorque contra Renato Seabra
" Detective John Mongiello, número 05299 da Esquadra de Midtown Sul, atesta que:
A 7 de Janeiro de 2011, por volta das 14 horas no número 300 da West 44th Street, Nova Iorque, o arguido cometeu as seguintes agressões:
Homicídio de Segundo Grau
O arguido, com intenção de causar a morte a outra pessoa, causou a morte dessa pessoa .
As agressões foram cometidas nas seguintes circunstâncias:
O depoente afirma que viu um indivíduo do sexo masculino, mais tarde identificado como Carlos Castro, nu, deitado no chão, no local acima mencionado, e que este estava morto. O depoente adianta que o rosto de Carlos Castro estava coberto de sangue e de ferimentos.
O depoente adianta que os testículos de Carlos Castro foram cortados. O depoente adianta que foi informado por alguém conhecido da Procuradoria-Geral do distrito que, quando uma testemunha perguntou ao arguido onde estava Carlos Castro, o arguido disse que Carlos não ia sair do quarto.
O depoente adianta que foi informado pelo detective Richard Tirelli, da Esquadra de Homicídios de Manhattan Sul, que o arguido confessou ter morto Carlos Castro e que agrediu Carlos Castro de várias formas, incluindo as seguintes: estrangulou--o, impediu-o de respirar, apunhalou-o com um saca-rolhas, pontapeou o senhor Castro, atirou o senhor Castro de cabeça contra o ecrã da televisão e cortou os testículos do senhor Castro.
O depoente adianta que foi informado pelo Dr. Michelle Sloane, do Gabinete de Medicina Legal, que, depois de um exame ao corpo, observou marcas de sapato no rosto do sr. Castro, provas de compressões no pescoço, lacerações, um grande traumatismo craniano e os testículos cortados.
Falsos Testemunhos aqui feitos são punidos como um crime de classe A nos termos da secção 210.45 da lei penal.
Depoente Data e hora
PERFIL: PROCURADORA MAXINE ROSENTHAL
Maxine Rosenthal é a procuradora que tem a seu cargo a acusação do estado de Nova Iorque contra Renato Seabra. Tem uma vasta experiência em crimes sexuais violentos. O caso mais recente e mediático envolveu um compositor conhecido, Joseph Brooks, acusado de violar 11 mulheres. Colegas descrevem a procuradora distrital adjunta como implacável na preparação dos seus processos e na argumentação.
IMPECAVELMENTE PENTEADO, BARBA FEITA E PIJAMA AZUL
Barba feita, cabelo curto impecavelmente penteado, Renato Seabra apresentou-se ao juiz Ferrara de aspecto saudável, através da tela de videoconferência que foi projectada no 5º piso no Tribunal Criminal de Manhattan. De pijama azul claro, recostado no sofá castanho da ala psiquiátrica do Hospital de Bellevue, começou por fazer sinal ao advogado de que não queria ser fotografado ou filmado pelos jornalistas, e sorriu quando o juiz anuiu. Nada disse no minuto que durou a sessão, mas mostrou-se atento, com um ar que não indiciava estar sob efeito de sedativos. O advogado David Tauger esteve sempre a seu lado e no final levantaram-se para dar lugar ao paciente seguinte.
DEFENSOR EXPERIENTE
A defesa do jovem modelo Renato Seabra, principal suspeito do homicídio do cronista Carlos Castro, vai estar a cargo de David Touger. Um advogado judeu, natural de Brooklyn e com muita experiência em casos de crimes violentos. Foi um dos membros fundadores, em 1990, da agência de advogados Peluso & Touger LLP, sociedade onde trabalha. Segundo o site da agência de advogados, Touger estudou na Brooklyn Law School e formou-se em 1984.
Começou por defender, na Legal Aid Society, clientes que eram detidos e que não tinham dinheiro para contratar um advogado. Saiu desta sociedade em 1988, com mais de trinta casos resolvidos.
David Touger tem experiência em tribunais estatais e federais e tem representado vários clientes em muitas jurisdições, fora da área metropolitana de Nova Iorque. E tem experiência em processos de vários tipos de crime. Desde crimes de colarinho branco, que envolveram dirigentes sindicais, tráfico de droga aos crimes violentos.
Um dos seus últimos casos mediáticos foi o julgamento de um homem acusado de estar envolvido numa rede de tráfico de droga. O seu cliente foi o único, de quatro detidos, a ir a julgamento, e obteve a absolvição.
O advogado é conhecido pela forma inteligente e agressiva como aborda cada um dos seus casos e por ser um negociador radical.
É presidente da sinagoga da localidade onde vive e é membro da Associação de Advogados de Brooklyn.
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