Horas antes do homicídio de Carlos Castro, Renato pediu à mãe que o ajudasse a ir embora de Nova Iorque. Num restaurante a dez minutos do Intercontinental, uma mulher de nome Sarah cedeu-lhe o telemóvel para ligar para PortugalEram 17h25 em Portugal (cinco horas menos nos EUA), quando Odília Pereirinha, enfermeira de profissão, atendeu uma chamada de um número desconhecido. Do outro lado o filho, nervoso, aumentou a sua angústia: «Disse-me que parecia estar a viver numa prisão e que o queriam comprar com 'luxúrias', e para eu lhe arranjar forma de vir já para cá».
Desde que saíra do país que o filho lhe ligava, duas a três vezes por dia, do telemóvel de Carlos Castro, pois não pedira roaming para o seu. Mas a primeira chamada ocorrera de manhãzinha, o que não era hábito. Com os poros maternos em alerta, Odília perguntara-lhe logo se estava bem. O jovem respondera, vacilante: «Ando a dormir mal».
Desta vez volta a insistir e Renato terá dito o suficiente: «Eu e o senhor Castro discutimos. Não posso falar mais».
Odília liga então à filha e pede-lhe que faça tudo para arranjar um voo que traga rapidamente o irmão para casa. O filho dissera-lhe que estava a ligar do telefone de uma amiga que conhecera num centro comercial, mas o sexto sentido, ou algo mais que lhe andava a moer, fá-la ligar ao cronista e não para o número de onde o filho lhe ligara: «Senhor Carlos, o que fez ao meu filho para ele estar sozinho no meio da rua? Olhe que ele sempre lhe disse que não era como o senhor!».
Castro terá tentado acalmá-la: «Não se passa nada. Sabe como ele é, ele gosta de andar a pé! Eu até lhe disse para não sair do hotel porque está a nevar. Fique tranquila que deve estar a chegar e eu já lhe ligo».
Minutos depois, às 17h47, foi Castro quem ligou a Odília: «O Renato já cá está. Como vê, está tudo bem». A mulher parecia ter descoberto que falhara na vigilância à ninhada, e terá respondido de uma forma seca: «Não é consigo que quero falar. Passe-me ao meu filho». A viagem de regresso já estava garantida para o dia seguinte, e mal ouve a voz do filho, comunica-lho. Mas Renato não podia falar. Ela incentiva-o: «Vai para a casa de banho, para o corredor...». Ele disfarça, diz que não pode, e desliga. Odília está sem saldo no telemóvel e usa o telefone fixo de casa. Castro atende, mas a mulher apenas terá ouvido a voz do filho exaltada: «Não atendas, sabes que é a minha mãe e ela não quer falar contigo».
Sarah, a testemunha
Três dias depois de a notícia de que Renato tinha matado o cronista ter revirado a vida da família, Odília já aterrara em Nova Iorque e tentava, sem qualquer apoio do consulado português, desenvencilhar-se para ver o filho.
Em Cantanhede, Joana, irmã de Renato - que herdou a garra de Odília, que ficou com dois filhos pequenos a cargo após um divórcio atribulado - tentava dar um sentido às notícias avassaladoras que os media, dia após dia, espalhavam.
O número de telefone da mulher que o irmão utilizara para pedir ajuda toca em vão. Depois de várias tentativas, Sarah, que parecia esperar o contacto, atende e despacha assustada: «Não me volte a ligar, não sei nada do seu filho, ele utilizou o meu telefone apenas uma vez e depois deixou-me pendurada!». A voz denuncia a juventude da rapariga, mas a novas perguntas são cortadas a meio com firmeza, como se as antecipasse: «Não, não!».
Joana, por momentos, penitencia-se: «Se tivéssemos ligado logo para este número e não para o senhor Carlos Castro, talvez nada disto tivesse acontecido».
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