segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Cavaco é o Presidente do País da gigantesca abstenção
Cavaco esmagou em todos os distritos, mas é o PR menos votado da História. Alegre desiludiu em toda a linha, tendo menos votos com apoios partidários do que sozinho.
Confirmaram-se as indicações das sondagens, a tradição eleitoral, as previsões dos comentadores, o senso comum: Cavaco Silva foi reeleito, como gritavam os seus apoiantes durante a campanha eleitoral, "à primeira!"; e Manuel Alegre registou um resultado pior do que quando concorreu, em 2006, sem apoios partidários.
Mas, no país da abstenção (52,4%, valor só superado nas escolhas para o Parlamento Europeu), apesar de triunfar em todos os distritos (na maioria esmagando Alegre), com 52,9% e 2,2 milhões de votos, mesmo assim Cavaco Silva é o Presidente menos popular da III República: não só é o único que nunca teve três milhões de votos, como ficou abaixo de Jorge Sampaio, que tinha registado o pior desempenho até à data, com 55,6% e 2,4 milhões na reeleição de 2001.
O resultado de Manuel Alegre (19,8%), inferior aos 20,7% que teve quando concorreu sozinho - a origem desse milhão de votos de 2006 terá sido sobretudo dos que contestavam os partidos e, agora, votaram em Fernando Nobre -, pode ser terrível para o poeta, mas também é péssimo para o PS, o BE e o PCTP/MRPP - que somaram 43,7% (2,2 milhões de votos) nas legislativas de 2009. E, em especial, para José Sócrates, líder do partido que elegeu dois PR (Mário Soares e Jorge Sampaio) e, depois, obteve votações irrisórias nos candidatos que decidiu apoiar na corrida a Belém em 2006 e em 2011.
A surpresa da noite foi Fernando Nobre, pois os seus 14,1% superaram até as sondagens que lhe eram mais lisonjeiras, demonstrando ser possível um independente conquistar uma fatia relevante do eleitorado - o que deveria servir de aviso à classe política, pois, em vez de um vulto tão irrepreensível como o fundador da AMI, nada garante que, no futuro, não surja um caudilho a entusiasmar multidões.
Mais impressionante ainda seriam os 4,5% de José Manuel Coelho, encarado como o equivalente ao brasileiro palhaço Tiririca, ao cómico Coluche nas presidenciais francesas de 1981 ou à porno star Cicciolina nas legislativas italianas de 1987, que, além de galvanizar a Madeira (39%), registou também boas votações no resto do País - e que sucederia com um outsider mais carismático e bem popular entre a juventude como o músico Manuel João Vieira?
Francisco Lopes (7,1%), conseguiu que o PCP se distinguisse do BE ao não se ligar ao candidato apoiado por Sócrates, mas não fixou o eleitorado (obteve dois terços dos votos de Jerónimo nas presidenciais de 2006 e do PCP nas legislativas de 2009), superando apenas o seu camarada António Abreu (5,2%, nas presidenciais de 2001). Defensor Moura (1,6%) segurou o voto regional (10,7% em Viana), mas não captou os socialistas que não gostam de Manuel Alegre ou rejeitam qualquer ligação ao BE.
E, se à gigantesca abstenção registada - ontem, por causa do frio; noutras alturas, devido à praia -, se juntarem 4,3% de brancos e 1,9% de nulos, então temos o espelho de uma sociedade que não se reviu em nenhum candidato - e não parece acreditar muito na actual elite dirigente.
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