domingo, 27 de março de 2011

Ciência Nuclear: Cientistas tentam criar reator que reproduza energia do sol

A ciência está em marcha para criar um reator que reproduz as reações nucleares que ocorrem no sol, dando origem a uma energia limpa, segura e inesgotável. Há já projetos e conhecimento, mas falta ainda a viabilidade comercial.

A energia nuclear é aquela que se liberta em transformações do núcleo dos átomos, que constituem a matéria, e há dois processos de obter quantidades significativas de energia, explicou à agência Lusa Carlos Varandas, diretor do Centro de Fusão Nuclear, do Instituto Superior Técnico (Lisboa).

Um desses processos é a fissão nuclear, que consiste na desintegração de átomos de elementos pesados como o urânio e que é o utilizado nas centrais nucleares. O outro é a fusão nuclear, a coalescência de dois átomos leves, como o hidrogénio.

“Em ambos os casos há redução de massa e essa redução de massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz dá origem a uma libertação de energia” em grandes quantidades para a atmosfera, explicou o cientista.

Esta é a “fonte de energia do universo e da vida na Terra, porque todo o calor e luz que chegam à Terra são produzidas no Sol a partir de reações de fusão nuclear”.

A energia obtida a partir da fusão nuclear tem mais vantagens e menos riscos.

“Enquanto um reator de fissão funciona sob pressão, como uma panela de pressão que se alguma coisa funcionar mal rebenta, o reator de fusão funciona em vácuo. Se alguma coisa funcionar mal implode, vai para dentro.”

Outra vantagem é que num reator de fissão é preciso colocar o combustível no interior no início da operação, enquanto que no de fusão os combustíveis vão entrando para o reator à medida que são queimados.

“É como se um reator de fusão fosse um bico de gás, que à medida que vai queimando o gás para aquecer a panela, vai consumindo o gás que vem da rede ou das botijas”, exemplificou. Em caso de avaria, basta fechar o bico do gás e a chama acaba.

É isso que se fará num reator de fusão: “Em caso de avaria a única coisa que há a fazer é fechar uma válvula de admissão do gás e as reações param".

Além disso, este sistema não permite que o reator atinja elevadas temperaturas, porque nunca há dentro do reator grandes quantidades de combustível que possam provocar explosões ou o derretimento da câmara do reator.

Em relação ao lixo radioativo, os reatores de fusão também o produzem, mas de baixa radioatividade que, com os materiais atuais, se perde em menos de cem anos, explicou. Com a nova geração de materiais que está a ser desenvolvida o objetivo é que a radioatividade se perca em dez anos.

Nos reatores de fissão, quando a operação termina existe grande quantidade de lixo, parte do qual com radioatividade muito intensa que leva milhares de anos a perder-se. Esses resíduos têm de ser armazenados em cemitérios nucleares, que são normalmente buracos cravados na crosta terrestre a grande profundidade, em zonas estáveis do ponto de vista geológico e onde não haja níveis freáticos, cursos de água. Mesmo assim, esses resíduos são encapsulados em plásticos para evitar contaminação.

“Essa energia [de fusão] ainda não é obtida porque apesar das experiências já feitas apenas se conseguiu um ganho de energia de 0,6. Gastámos 25 mega watts de potência a operar uma máquina, que é o JET (Joint European Torus), em Oxford, e só obtivemos como retorno 16 mega watts”, explicou Carlos Varandas.

Os cientistas estão a construir o primeiro reator experimental de fusão nuclear, em Cadarache, França, onde se espera que com os mesmos 25 mega watts de potência “se obtenha qualquer coisa entre 250 e 500 mega watts, ou seja, um ganho de aplicação de energia entre 10 e 20”.

Contudo, Carlos Varandas refere que os estudos económicos apontam para que um reator de fusão só será viável com um ganho de aplicação de energia da ordem dos 40.

@Lusa

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