Ia apenas visitar as filhas, mas ao ver a mulher, de quem estava separado, de mão dada com o novo companheiro atacou-a com uma faca. As meninas, na altura com dois e sete anos, assistiram a tudo, mas o tribunal condenou-o a pena suspensa. A mesma circunstância foi agora considerada uma agravante pelo Tribunal da Relação de Coimbra, que agravou a pena: o bombeiro de Vieira de Leiria vai ter mesmo de cumprir seis anos e sete meses de prisão efectiva.
Luís Ciriaco, de 43 anos, terá ainda de pagar à vítima, Maria Odete Indio, 36 anos, uma indemnização de 10 mil euros. Luís, bombeiro na corporação de Vieira de Leiria, tinha sido condenado em primeira instância por homicídio simples na forma tentada a quatro anos de cadeia, suspensa por igual período. O Ministério Público recorreu e os juízes-desembargadores entenderam que o crime era qualificado. O comportamento do arguido no dia 11 de Maio de 2008, ao munir-se de uma faca antes de ir ter com Odete e as filhas, revela preparação, sublinham os magistrados.
Luís Ciriaco teria como objectivo visitar as meninas, que residiam em Carvide, Leiria, com a mulher de quem estava separado há um mês. Ao avistá-la com o novo companheiro, que tinha uma das filhas ao colo, aproximou-se, empunhou a faca e desferiu quatro golpes em Odete. Após o ataque, perseguiu o companheiro da vítima, que se refugiou em casa com as crianças. Não conseguiu alcançá-los, mas desferiu facadas e pontapés na porta.
O acórdão salienta o facto de não ter havido "qualquer troca de palavras com a vítima que pudesse ter desencadeado uma reacção do arguido". Os juízes concluem que Luís ia preparado para o ataque, com a faca com que "apunhalou repetidamente a vítima" e que uma das facadas foi "dirigida cirurgicamente ao coração". O próprio ficou "convencido de que a tinha matado" e entregou-se à GNR.
"IA TÃO DOIDO QUE A ESTRADA PARECIA UM BICO"
No dia em cometeu o crime, Luís Ciriaco deslocou-se de bicicleta entre a Vieira de Leiria e Carvide. Segundo contou às autoridades, depois de ser detido, "ia tão doido, que a estrada parecia-lhe um bico". Depois do crime, e de ter ameaçado de morte o novo companheiro da mulher, dirigiu-se a um café e pediu para chamarem o comandante dos Bombeiros Voluntários da Vieira de Leiria, onde prestava serviço há 10 anos. Sem entrar em pormenores, limitou-se a dizer: "Matei a minha mulher." A faca, tipo navalha de uso doméstico, com cabo em madeira, tinha uma lâmina de nove centímetros de comprimento por três de largura. Tinha saído numa máquina de brindes, mas Luís não conseguiu explicar a razão por que saiu de casa com a faca no bolso. "É uma coisa que não consigo explicar", declarou em fase de inquérito.
PENA APLICADA NÃO ADMITE SUSPENSÃO
A pena de seis anos e sete meses de prisão não admite legalmente a suspensão. "De qualquer forma, num crime de sangue desta natureza, entende-se que nunca seria de suspender por não acautelar as necessidades mínimas de tutela do ordenamento jurídico", justificam os desembargadores. Os juízes entendem que Luís Ciriaco actuou "como represália" por a mulher não aceitar mais a vida em comum, "castigando-a, no fim de contas, na qualidade de marido, no sentido de que ‘não seria de mais ninguém’". As lesões não a mataram por ter sido "prontamente assistida".
Fonte: Correio da Manhã
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