Investidores em dívida pública acreditam que é mais arriscado investir em obrigações nacionais do que em dívida do Líbano ou Cazaquistão.
Investir em dívida pública do Líbano ou do Cazaquistão parece um paraíso quando a alternativa é aplicar dinheiro em Portugal, que é hoje, à luz dos mercados, o terceiro país do mundo com maior risco de bancarrota.
Tal como Grécia e Irlanda, Portugal também pediu socorro externo. E, tal como acontece na Grécia e na Irlanda, a percepção de risco para com Portugal continua a agravar-se até níveis impróprios para consumo. Prova dessa degradação é que os ‘credit default swaps' (CDS) sobre dívida nacional a cinco anos - uma espécie de seguro contra o incumprimento do País -, subiram até aos 656 mil pontos base, um valor recorde. Só há dois países dos 57 com dados disponíveis com pior ‘score': a Grécia e a Venezuela. Daí que nações como o Líbano (356 pontos) e o Cazaquistão (143 pontos) pareçam hoje destinos sem risco em comparação com Portugal, segundo este critério.
E (quase) tudo por causa da eventual reestruturação da dívida grega, ou seja, da eventual confissão pública de que, mesmo auxiliada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e os parceiros europeu, Atenas será incapaz de pagar os seus compromissos a tempo e horas. Irlanda e Portugal poderão sofrer do mesmo mal que é recomendado por alguns peritos e descartado por quase todos os políticos. "O espectro de uma reestruturação está presente, por isso é que as ‘yields' estão nos níveis actuais. O que está a ser descontado no mercado é uma reestruturação da dívida da Grécia, Irlanda e de Portugal", sublinhou Luís Filipe Garcia, da IMF, ao Diário Económico.
De facto, nos últimos dias, as ‘yields' sobre obrigações do Tesouro português a 2, 3 e 5 anos superaram a barreira inimaginável dos 11% no mercado secundário. Isto apesar de Portugal ter conseguido colocar mil milhões de euros em títulos de curto prazo com forte procura no mercado primário, e apesar também de estar iminente o fecho das negociações sobre o resgate patrocinado por Bruxelas e FMI.
Contudo, os níveis dos juros da dívida de Portugal mantêm-se longe das 'yields' gregas, que já estão nos 23% no prazo a dois anos.
No futuro próximo não se esperam mudanças em termos de risco. "Até existir um acordo com a EU e o FMI, o mais provável é as coisas continuarem a piorar. Depois do acordo, o que a história nos diz, olhando para os casos da Grécia e da Irlanda, é que os indicadores de risco não têm descido". Por isso, conclui Filipe Garcia, "não se vislumbram melhorias nem a curto nem a médio prazo", mesmo depois do acordo com o FMI que, "quanto melhor for para Portugal, pior será para a dívida".
Fonte: Económico
Fonte: Económico
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