Auditoria oficial denuncia que grande parte da verba de um programa americano para a reconstrução do Iraque foi desviada para grupos armados que combatiam os EUA. O Expresso acedeu ao documento e explica como tudo se passou.
Entre 2004 e 2011, o Exército americano transferiu para vários grupos insurgentes, o inimigo número 1 durante a ocupação do Iraque, milhares de milhões de dólares, revela uma auditoria oficial entregue hoje à Secretaria de Estado e Departamento de Defesa americanos, documento a que o Expresso teve acesso (ver em anexo).
O dinheiro terá sido desviado do programa "Commander's Emergency Response Program", quantificado em 4 mil milhões de dólares (3 mil milhões de euros), que serviria para reconstruir infra-estruturas destruídas durante a guerra.
A descoberta foi feita pelo Inspecção-Geral para a Reconstrução Iraquiana (IGRI), durante uma auditoria ao CERP.
A IGRI é uma entidade sob alçada do Departamento de Defesa e Departamento de Estado americanos, bem como do Congresso.
Maços de notas de 100 dólares
Na prática, explica a IGRI, o dinheiro partia de Washington e era distribuído em maços de notas de 100 dólares aos comandantes de batalhão americanos estacionados no Iraque. Estes, por sua vez, usavam-no para pagar Projectos de reconstrução (escolas, casas, etc), prémios aos ex-insurgentes que tinham aceite pousar as armas e indemnizações às famílias vítimas de "fogo amigo", ou seja, da máquina de guerra americana.
A inspecção detectou, no entanto, que a maioria dessa verba foi parar aos bolsos dos movimentos iraquianos que combatiam as forças dos EUA. "76% do dinheiro foi desviado em algum esquema de corrupção ou fraude. Os líderes militares perceberam que a corrupção era o preço a pagar para fazer negócio no Iraque", lê-se no documento.
O esquema
A IGRI explica como é que essas transferências eram feitas. "Há provas de que os líderes locais que, supostamente, tinham recebido dinheiro para desistir de lutar, transferiam esses pagamentos para outros grupos armados ainda activos".
Outra das alegadas falcatruas tinha origem nos contratos assinados com as firmas de segurança locais, destacadas para protegerem os militares americanos enquanto eles construíam o país.
A investigação explica que essas companhias não eram mais do que grupos de fachada com ligações estreitas aos movimentos de resistência.
Onde estão as facturas?
A Inspecção-Geral para a Reconstrução Iraquiana critica, ainda, o facto de não existirem facturas nem qualquer tipo de documentação que comprove os pagamentos feitos a dinheiro.
A Secretaria de Estado americana, em carta datada de 26 de Abril, incluída em anexo à investigação, explica: "Partilhamos das preocupações dos auditores".
Até ao início desta tarde não houve qualquer reacção oficial à auditoria.
Fonte: Expresso
(clique aqui para ver o documento em formato PDF) |
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