Bancos, Unicre e retalhistas negoceiam revisão de taxas cobradas pela utilização do pagamento electrónico.
Depois de 45 minutos às compras numa loja Pingo Doce, no Estoril, o cliente chegou finalmente à caixa. E, já com os produtos no saco, preparava-se para pagar com cartão de crédito. Mal o retirou da carteira, a funcionária apontou para um aviso colocado mesmo ao lado da pilha de pastilhas elásticas. "Aqui só aceitamos Multibanco", explicou. O cliente remexeu os bolsos, mas não tinha consigo dinheiro suficiente para pagar a conta. Ainda insistiu, mas nada feito. Visivelmente transtornado com a perda de tempo, desistiu e foi para casa de mãos vazias.
A cena passou-se ontem, num dos 15 supermercados Pingo Doce que não estão a aceitar pagamentos com cartões de crédito, uma medida que a empresa do grupo Jerónimo Martins já está a testar no terreno. A avaliação, em curso, afecta apenas 4% das lojas e para já "não há decisões tomadas" quanto ao fim deste meio de pagamento em todas as lojas, garante fonte oficial. "O Pingo Doce está muito focado na identificação, na sua estrutura de custos, de oportunidades de ganho de eficiência", refere a fonte, sem adiantar até quando vai durar o teste.
A análise da Jerónimo Martins ao fim dos pagamentos com cartões de crédito surge numa altura em que a Unicre, os bancos e as cadeias de distribuição estão em negociações para reduzir as taxas cobradas pela utilização dos terminais de pagamento electrónico.
Fonte da Sonae, dona do Continente e do PÚBLICO, lamenta que "independentemente dos esforços realizados até ao momento, as taxas pagas em Portugal para aceitação de cartões de débito e de crédito continuam desproporcionalmente elevadas, representando mais de 2,5 a 3 vezes àquelas que se pagam na generalidade dos países europeus". O grupo está em Espanha, "onde já paga menos de metade em comissões pela utilização de cartões nas suas lojas". O Continente vai continuar a aceitar cartões de crédito, mas avisa que "tal dependerá da rápida convergência dos custos de transacções com meios de pagamento electrónicos em Portugal" com os outros países europeus.
A Unicre, dona da maior rede de aceitação de cartões de crédito, admite que a grande distribuição, "devido ao volume, tem obviamente uma importância significativa" no seu negócio. "Estamos seguros que o teste [do Pingo Doce] demonstrará a relevância que os pagamentos electrónicos têm para os consumidores e, consequentemente, para os comerciantes", diz a empresa, detida por 14 bancos (74% do BCP, Santander e BPI)."Todos, dos comerciantes à Unicre, estão empenhados em chegar a uma plataforma de entendimento que sirva os interesses comuns", diz a empresa, acrescentando que "essa plataforma de entendimento será encontrada muito em breve".
Há largos anos que a distribuição critica a cobrança de comissões "excessivas" pela utilização dos terminais de pagamento electrónico (de débito e de crédito), tendo movido queixas contra a Visa, a Unicre e a SIBS por alegadas práticas restritivas de concorrência, entretanto arquivadas pela Autoridade da Concorrência. Segundo dados da APED em 2002, as comissões pagas pelos comerciantes rondaram os 95 milhões de euros. Em 2006 esse valor desceu para 65 milhões.
Fonte: Público
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