A Turquia atacou alvos na Síria depois de hoje à tarde terem sido mortos cinco civis turcos na aldeia de Akçakale. O incidente da tarde deixara o meio diplomático em alvoroço.
"Este ataque desencadeou uma resposta imediata das nossas Forças Armadas (...) que bombardearam alvos identificados por radar ao longo da fronteira", lê-se num comunicado do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan. Erdogan assegurou que "estas provocações contra a segurança da Turquia não vão ficar sem resposta" e disse que a resposta militar turca aos ataques de hoje à tarde é um acto de "defesa própria".
O incidente colocou o meio diplomático em alvoroço. O vice primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, reagiu ao ataque sírio dizendo que “a Síria tem de ser responsabilizada pela lei internacional este incidente”.
Os representantes dos 28 países membros da NATO reuniram-se de urgência hoje à noite. No final da uma fonte diplomática revelou à AFP que foi expressada uma "mensagem de solidariedade com a Turquia". Em comunicado a NATO "exige o fim dos actos agressivos contra o seu aliado turco" e apela à Síria para pôr um "às suas flagrantes violações da lei internacional".
Após o ataque sírio à aldeia de Akçakale, o ministro dos negócios estrangeiros turco, Ahmet Davutoglu, contactou prontamente o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no sentido de informá-lo do incidente e de exprimir "a profunda inquietação da Turquia".
Num primeiro comunicado, o sul-coreano “aconselhou o ministro [turco] a manter abertos todos os canais de comunicação com as autoridades sírias no sentido de atenuar quaisquer tensões que possam surgir com este incidente”, declarou, segundo o seu porta-voz. Numa segunda intervenção, pediu à Síria que respeite a integridade territorial dos países vizinhos.
Davutoglu também contactou o secretário-geral da NATO, o norueguês Anders Rasmussen. Rasmussen “condenou fortemente” o incidente. Rasmussen adiantou também que não há qualquer intenção da NATO de intervir na Síria, mas disse que, se for necessário, a aliança militar está disposta a defender a Turquia de outros ataques. A Turquia tem o segundo maior exército da NATO, ficando atrás apenas dos EUA.
Após o ataque sírio, embora antes da resposta turca, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, respondeu estar “revoltada” com a “perda de vidas que ocorreu no lado turco da fronteira”. Clinton referiu estar a trabalhar com os seus “parceiros turcos” e que mais tarde iria discutir qual seria “o melhor caminho a seguir” juntamente com o ministro dos negócios estrangeiros turco.
Turquia-Síria: da amizade diplomática ao conflicto iminente
Este é o terceiro grande episódio de tensões entre a Turquia e a Síria desde o início da revolta contra o regime de Assad, em Março de 2011.
O primeiro foi em Abril, quando dois polícias turcos foram mortos por tiros disparados a partir da Síria enquanto guardavam o campo de refugiados de Kilis, na Turquia, que na altura abrigava fugitivos sírios do regime de Assad. A segunda foi quando um avião militar turco foi abatido pelo exército leal a Assad, cujas tropas alegaram que o aeroplano em questão estava a invadir o espaço aéreo sírio.
Os acontecimentos de hoje foram provocados após um ataque sírio à aldeia turca de Akçakale, junto da fronteira com a Síria, já tinha sido alvo de balas perdidas nos últimos dez dias. Tudo culminou na quarta-feira quando uma casa de civis foi destruída por duas bombas disparadas a partir da Sìria, resultando em cinco mortos e nove feridos. Os mortos são uma mulher e os seus quatro filhos.
"Eu vi uma mulher a ser desfeita mesmo à minha frente, e há mais mortos e feridos", disse à AFP um homem residente de Akçakale. O autarca da aldeia atingida, Abdülhakim Ayhan, disse à mesma agência que “há um sentimento de raiva em relação à Síria na aldeia”. Logo após o incidente, alguns civis tentaram socorrer as vítimas do míssil disparado a partir da Síria e outros iniciaram um protesto contra as autoridades locais.
"O míssil caiu mesmo no centro do bairro" contou à Reuters o responsável do Crescente Vermelho turco local, Emin Meshurgul. "As pessoas de cá estão muito ansiosas, porque já fomos atingidos anteriormente. As forças de segurança tentaram convencer as pessoas a saírem do bairro junto à fronteira, mas agora fomos atingidos mesmo no centro da aldeia", avançou Meshurgul, que disse conhecer pessoalmente as vítimas deste incidente.Do outro lado da fronteira, no lado da Síria, fica Tall al-Abyad, posto militar recentemente capturado pelos rebeldes do Exército Livre da Síria aos militares leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
As relações entre a Síria e a Turquia têm caído vertiginosamente desde o início das revoltas contra o presidente sírio Bashar al-Assad. Se antes da Primavera Árabe o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoðan, era um forte aliado de Assad, com o início das revoltas e com o intensificar dos conflitos armados na região, o homem forte turco abriu mão do seu aliado diplomático.
Parte desse processo passou pela Turquia receber refugiados sírios - são, até hoje, 93 mil refugiados a viver em campos do lado turco da fronteira com a Síria. A Turquia também acolheu alguns líderes militares dos rebeldes, tornando possível que estes planeassem, na fase inicial do conflito na Síria, grande parte das operações dos rebeldes a partir do território turco.
Fonte: Jornal Público
Fonte: Jornal Público
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