quarta-feira, 22 de junho de 2011

Salário médio sofre ‘estranha’ subida

Com a nova metodologia do INE, o vencimento médio do país está em 813 euros, acima do valor de há um ano ou do final de 2010. O organismo alerta que os dados não são comparáveis, mas economistas confessam-se surpreendidos.

A nova série de inquéritos ao emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), iniciada no primeiro trimestre deste ano – e que levou a uma revisão em alta dos números do desemprego –, traz também surpresas a nível de salários.

De acordo com o organismo de estatística, o vencimento médio em Portugal situou-se em 813 euros líquidos, um valor 5% mais alto do que no mesmo período do ano passado e 3,6% superior face ao último trimestre de 2010. O INE alerta que os dados não são directamente comparáveis, devido a uma mudança metodológica, mas os economistas Cantiga Esteves e César das Neves confessam-se surpreendidos com os valores apurados.

As Estatísticas do Emprego relativas ao 1.º trimestre de 2011 representam uma nova série do INE, devido a uma novo método de recolha de dados, que passou a incluir entrevistas por telefone, em vez de serem feitas exclusivamente por questionários presenciais. Esta mudança fez com que a taxa de desemprego aumentasse: com a nova metodologia, foi de 12,4%, com uma população desempregada de 689 mil indivíduos. Com o método anterior, a taxa seria de 11,4% e a população desempregada de 633,3 mil indivíduos, calculou o INE.

Os dados do primeiro trimestre mostram também que o salário médio em Portugal foi de 813 euros. Uma comparação directa com o valor registado no mesmo trimestre do ano anterior, ainda com a série antiga, resultaria numa subida do vencimento médio de 5%, o maior crescimento homólogo desde 2005. Num ano de crise intensa, em que a contenção salarial está a ser seguida pela generalidade das empresas, seria uma evolução pouco lógica. Contudo, o INE, questionado pelo SOL, salienta que esse cálculo não deve ser feito, uma vez que os valores «não são directamente comparáveis com os da série anterior». O organismo não calculou o salário médio deste ano com a metodologia anterior, como fez para o desemprego, pelo que fica por conhecer a real evolução deste indicador.

João Cantiga Esteves, docente no ISEG, confessa alguma «surpresa» e «inquietação» perante os dados do INE. Mesmo que a subida do salário médio seja explicada unicamente pelo novo método de recolha de dados, o economista entende que isso significaria que os custos do trabalho em Portugal têm vindo a ser «subestimados» ao longo do tempo. «Se a nova metodologia vai no sentido de maior rigor, transparência e adesão à realidade, isso significa que a perda de competitvidade do país é superior ao que imaginávamos», sustenta.

João César das Neves, docente da Universidade Católica, tem uma visão diferente: «O que conta para a competitividade não é o nível, mas a variação. Ou seja, seria preciso recalcular os valores antigos com a nova metodologia e ver o crescimento verificado na série corrigida», explica.

O economista considera que os valores do INE_são «muito estranhos», mas admite a possibilidade de serem explicados pelas pessoas com salários baixos que perderam o emprego, e que por isso deixam de contar e fazem subir a média. E deixa um alerta: «Quando se usam indicadores pela primeira vez, é preciso ter muito cuidado, porque acontece frequentemente estar-se a medir uma coisa diferente do que se julga».


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