O ensaísta Eduardo Lourenço considerou esta quinta-feira, em Coimbra, que a ausência da Associação 25 de Abril das comemorações oficiais da 'Revolução dos Cravos' "é um sinal que se percebe, mas que pode ser lido com alguma preocupação".
Para o pensador, as ausências de Mário Soares e de Manuel Alegre das comemorações no Parlamento "são escolhas que se percebem na perspectiva do passado" destes políticos, considerando "mais difícil de explicar como é que os militares de Abril não quiseram estar presentes".
"É um sinal que se percebe, mas que pode ser lido com alguma preocupação", disse, à Lusa no final do colóquio "Eduardo Lourenço: as paisagens matriciais e os tempos de Coimbra".
"[É] um aviso de que, se o país não encontra uma saída honrosa para esta situação que está a viver, estamos a ser tutelados momentaneamente por uma comissão exterior, se isto realmente não tiver uma saída positiva, que se espera, eles avisaram que o Exército, eles que fizeram a outra revolução, poderiam estar prontos, talvez não os mesmos, mas outros militares podiam outra vez intervir na vida pública, espero que isso não aconteça", afirmou.
Na sua perspectiva, "seria uma espécie de voltar outra vez atrás".
O filósofo referiu ainda não ter seguido com grande atenção as comemorações do 25 de Abril.
"Só vi à tarde uma espécie de resumo. Sei que foram sobretudo marcadas, não tanto pelo ritual habitual, mas pelo facto de que personalidades importantes da nossa vida pública não compareceram e é a primeira vez", afirmou.
Na sua óptica, trata-se de "um sinal de distanciamento em relação à situação que se está a viver no país e, particularmente, talvez uma espécie de crítica velada ou directa ao comportamento do governo actual nesta situação" em que o país se encontra.
Eduardo Lourenço foi um dos oradores no colóquio, que decorreu na Casa das Caldeiras, e em que intervieram também Maria Helena da Rocha Pereira, João Tiago Pedroso de Lima e Fernando Rodríguez de la Flor.
O colóquio insere-se numa série de iniciativas intituladas "Um (e)terno olhar", que decorrem até sábado nesta cidade e na Guarda, e em cuja organização estão envolvidos o Centro de Estudos Ibéricos, a Reitoria da Universidade de Coimbra e o Teatro Académico de Gil Vicente.
Fonte: Correio da Manhã
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