Campos e Cunha defende que a saída da moeda única teria consequências catastróficas para Portugal. Já Ferreira do Amaral diz que uma saída organizada não seria catastrófica.
O que poderá acontecer aos nossos depósitos bancários, aos nossos empréstimos e ao preço dos bens e serviços de que precisamos todos os dias, se euro acabar ou se Portugal sair da moeda única? O risco é real, apesar de nenhum líder europeu o assumir taxativamente. ARenascença perguntou a dois economistas quais seriam as consequências do fim do euro ou de uma saída da moeda única. O problema é demasiado complexo e as respostas não são simples. Há quem veja esta possibilidade como positiva e quem a considere desastrosa.
Campos e Cunha, primeiro ministro das Finanças do Governo de José Sócrates, defende que a saída da moeda única teria consequências catastróficas para Portugal e para os portugueses. “Seria desastrosa”, alerta.
“Significaria um retrocesso brutal para toda a Europa e, portanto, uma quebra no produto e no rendimento brutal e é difícil de prever de quanto seria, mas certamente estamos a falar de situações muitíssimo piores do que estamos a atravessar”, explica Campos e Cunha.
O antigo ministro das Finanças diz que se hoje estamos mal, com a saída do euro, ficaríamos ainda pior. “Teríamos queda do produto de 20 ou 30% na maior parte dos casos”. “Seria uma situação verdadeiramente de catástrofe económica nunca vista”.
Para Campos e Cunha, o fim da moeda única representará também o colapso do sistema financeiro. “Mudar de moeda é uma coisa que demora muitos meses e teria de ser pré-anunciado, o que significaria que as pessoas iam a correr ao banco, no dia seguinte, levantar em notas de euros os seus investimentos. Isso implicaria o colapso do sistema financeiro por toda a Europa”, sublinha ainda.
Do ponto de vista dos tratados, ninguém pode ser obrigado a sair do euro, mas a pressão dos Estados mais fortes pode obrigar a uma saída dos mais fracos e desequilibrados financeiramente, como a Grécia e Portugal.
Mas há quem tenha uma visão positiva em relação à possibilidade do euro acabar ou de Portugal sair da moeda única, como é o caso de João Ferreira do Amaral. O economista diz que uma saída não será uma catástrofe, porque “num cenário de um eventual fim do euro uma concertação entre países impedirá que haja um a perda das aplicações que as pessoas tenham no banco.”
O economista acrescenta que é possível garantir o valor das aplicações financeiras e das dívidas, apesar da mudança de moeda. A solução seria o Estado suportar a diferença. “Manter o valor em euros significaria um aumento grande das dívidas em moeda nacional, quer para as famílias quer para as empresas. Para compensar esse aumento, e para não haver uma pressão grande sobre as famílias e empresas, o Estado devia substituir-se aos devedores na parte do aumento das dívidas que resulte da desvalorização da moeda”, defende.
Isso seria possível, explica, porque nessa altura o “Estado já teria emissão monetária e poderia financiar isso através de empréstimos através do Banco de Portugal”.
O grande problema está num fim abrupto da moeda única. Se o euro desaparecer de repente, ninguém sabe verdadeiramente o que pode acontecer. Agora, se for feito de forma controlada, defende Ferreira do Amaral a saída poderá não ser traumática, mas a inflação iria disparar.
“O custo da saída do euro é haver subida da inflação”, diz. “É o preço a pagar para termos de novo condições de crescimento e de redução do desemprego porque este caminho de austeridade permanente leva a um desastre de grandes proporções”, alerta.
Fonte: rr.sapo.pt
Fonte: rr.sapo.pt
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