De acordo com a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), as receitas de buffets e papelarias das escolas estão a sofrer uma quebra de 30 por cento.
“Tanto no bar dos alunos, como na papelaria há efectivamente uma quebra. Ainda não quantifiquei, mas é uma redução substancial”, confirmou à agência Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.
Os alunos têm cada vez menos dinheiro para gastar na escola e em muitas situações chegam mal alimentados.
O professor dirige uma escola em Cinfães, onde grande parte da mão de obra masculina estava associada à construção civil, agora estagnada.
Mesmo famílias que conseguem manter o emprego, vêem reduzido o rendimento e a escola é o primeiro lugar onde as evidências não podem ser negadas.
“Reflecte-se se na quantidade de suplementos alimentares que estamos a dar aos alunos identificados pelos directores de turma”, conta o docente.
Ao perceber que há alunos mal alimentados, a escola oferece um lanche ao início da manhã e outro a meio da tarde: um pão com queijo ou fiambre e um sumo ou leite.
“Temos vários sinais para poder tomar este tipo de decisões. Um deles tem a ver com a não utilização do cartão (electrónico) por falta de dinheiro”, relata o dirigente, que conta também com o director de turma para perceber se o aluno toma o pequeno-almoço ou se “anda sistematicamente à volta do bar dos alunos e não compra nada”. A situação é facilmente identificada pelos funcionários e analisada com uma assistente social.
A escola, classificada como Território Educativo de Intervenção Prioritária (TEIP), já presta este apoio há vários anos, mas nos últimos tempos teve necessidade de o reforçar.
“Estamos a falar neste momento de um universo de oito a 10 por cento dos alunos da escola”, indica o director do estabelecimento, com 650 estudantes.
Presentemente são 50 a 60 alunos que recebem o suplemento alimentar, mas estão constantemente a ser identificados “mais alunos” nestas circunstâncias.
Manuel Pereira conta receber verbas para estes apoios, mas quando não as tinha, utilizava todos os lucros do bar dos alunos e dos professores para prestar este auxílio.
Nos contactos que faz regularmente com directores de outras escolas, constata situações semelhantes.
Também o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) nota que os alunos já não levam “notas grandes” para a escola.
“As quebras são em tudo, como não hão-de chegar aí também”, questiona Adalmiro Botelho da Fonseca.
“Aquela época em que os alunos levavam muito dinheiro para a escola, que era uma coisa que me incomodava imenso! - de famílias às vezes com dificuldades -, o aluno que queria umas sapatilhas de marca e tinha não sei quantas, isso está a passar”, atesta.
Agora, diz, “é que toda a gente começa a aperceber-se que estamos em crise”.
Fonte: Lusa / SOL
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