O capital financeiro está "cego" e numa "insaciável corrida para o precipício" que vai provocar convulsões muito fortes na sociedade e a "revolta dos escravos", afirmou hoje o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço.
Em declarações à Lusa em Madrid, Vasco Lourenço considerou que a cidadania está "extraordinariamente descontente e descrente em relação aos dirigentes" políticos, que "perderam prestigio".
"Mais grave do que a crise económica e financeira é a crise dos valores, do descrédito dos dirigentes políticos. E isso tem-se vindo a acentuar ainda mais", afirmou.
Uma situação, considerou, que se agravou, desde que, nas celebrações do 25 de Abril, afirmou que "os dirigentes políticos se vendiam ou deixavam comprar pelo poder capitalista e financeiro".
"Neste momento o capital financeiro já nem precisa de comprar os políticos, substitui-os por funcionários seus, foi o que aconteceu na Grécia e na Itália. Esperemos que não se passe em Portugal ou em Espanha", disse.
Considerando que o capital financeiro "está insaciável, numa corrida para o precipício", Lourenço considera que essa tendência "vai provocar convulsões muito fortes nas sociedade".
Uma "revolta dos escravos" por parte de uma sociedade para quem "é impensável que a situação possa continuar como está".
"O capital financeiro está cego, quer mais poder e está a destruir tudo aquilo que ao longo de anos, e foram mais de 100 anos, se construiu para equilibrar o capital e o trabalho. Estão a destruir tudo", disse.
"A minha convicção é de que vai haver uma grande convulsão e uma revolução qualquer. Não falo em termos portugueses, mas internacionais, nomeadamente no mundo internacional.
Apesar da sua preocupação, Vasco Lourenço rejeita a ideia de um qualquer levantamento militar, considerando "descontextualizados" comentários sobre essa possibilidade.
"Fazem-se afirmações que não são bem compreensíveis e que levam até ao desvio das atenções. Há que ter cuidado com isso. Há que estar atento, e os militares têm que estar atentos, como ultima salvaguarda do Estado e da democracia. Mas espero que não se deixem embarcar em aventuras complicadas", disse.
"Tem que ser a cidadania civil a reagir. Quando são os militares a reagir fazem-no em situações extremas e essas há que as tentar evitar.
Vasco Lourenço falou à Lusa à margem do encontro "Memória militar e valores constitucionais na Península Ibérica", promovido pela Associação 25 de Abril e pelo Fórum Milícia e Democracia (espanhol) e que decorre no Centro de Estudos Políticos e Constitucionais em Madrid.
Para Vasco Lourenço, o 25 de Abril teve um papel vital no processo de transição de Espanha e o poder "recordar a memória" ibérica destes momentos é importante, especialmente dadas as situações atuais.
"Sem memória, sem a memória do passado bem presente é difícil conquistar o futuro", disse.
"Principalmente numa altura em que se questiona a constituição, quem a queira meter entre parênteses, é bom relembrar os valores constitucionais e a importância que devem ter num qualquer estado", considerou.
O encontro conta, entre outros, com a participação do ex-presidente da República, Mário Soares e do fundador do Partido Comunista Espanhol, Santiago Carrillo.
Fonte: DN.PT
Fonte: DN.PT
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