As autoridades norueguesas já identificaram os 77 mortos da explosão em Oslo e do ataque à ilha de Utoya, a 50 quilómetros. Mas ainda serão precisos meses para tentar perceber Anders Breivik, o norueguês de 32 anos que planeou durante mais de uma década os acontecimentos da sexta-feira, 22 de Julho de 2011. Apesar de Breivik ter planeado um ataque nunca antes visto, não é contudo o único cujo nome estará para sempre ligado a um massacre.
Os noruegueses não querem sequer pronunciar o seu nome. Quando na noite da passada segunda- -feira cerca de 250 mil pessoas se reuniram no centro de Oslo para prestar homenagem às 76 vítimas do pior acto de violência na Noruega desde a II Guerra Mun- dial, o nome de Anders Breivik foi substituído em todos os discursos pela palavra "criminoso".
O homem que deixou uma nação inteira em estado de choque é tido como "louco" pelo seu advogado e o próprio pai. O ex-diplomata a viver em Paris disse que teria sido melhor se o filho tivesse "cometido suicídio".
Na página que mantinha no Facebook, entretanto desactivada, Breivik descrevia-se como "conservador", "cristão" e mostrava interesse em caça, em culturismo e na maçonaria. Era também fã de World of Warcraft e Call of Duty, dois jogos que usou como plataformas para treinar os ataques.
Militante do partido da direita populista, o Partido do Progresso (FrP) entre 1999 e 2007, abandonou esta formação quando os seus pontos de vista começaram a tornar-se cada vez mais extremistas. Nutrindo um profundo ódio pelo multiculturalismo, o homem que em 2001 foi detido por posse de armas e explosivos opõe-se àquilo que chama de "islamização da Europa Ocidental". O manifesto de cerca de 1500 páginas que escreveu e pôs a circular na Internet está repleto de referências xenófobas e "ensina" a identificar traidores dos "nativos europeus".
Fã da série Dexter, cujo principal personagem é um assassino em série, Breivik culpa os partidos de esquerda europeus pela "destruição da herança cristã" ao permitirem a imigração de muçulmanos. Antes do ataque em Utoya , dizia estar em contacto com indivíduos que formavam uma ordem militar inspirada nos Cavaleiros Templários que tinha como objectivo conquistar a Europa até 2083 após uma série de golpes.
Nascido em Fevereiro de 1979 em Londres, é filho de Jens Brevik, um diplomata que trabalhou nas embaixadas de Londres e de Paris, e de Wenche, uma enfermeira. Mudou-se para a Noruega com apenas um ano, após o divórcio dos pais.
Breivik cresceu em Skoyen, um agradável subúrbio de Oslo, e foi para lá que regressou no início deste ano para viver com a mãe, ganhando assim "tempo e meios" para se preparar para o massacre que no seu manifesto vê como uma "missão". Foi em Skoyen que, depois de ter passado por vários empregos sem grande sucesso, inclusive num call-center, começou a gerir uma quinta de produtos biológicos onde acabaria por construir a bomba, fabricada a partir de fertilizante, que explodiu no centro da capital norueguesa.
Sobre a relação que mantém com os membros da sua família, aparentemente apoiantes de partidos de esquerda, diz no seu manifesto ter "vergonha" da mãe e da irmã. "É uma família destruída pelo feminismo e a revolução sexual." Quanto ao pai, manteve contacto com ele até aos 15 anos, mas a partir daí nunca mais falaram.
Apesar de se insurgir contra aquilo que considera ser a imoralidade sexual da sua família, Breivik admite que poupou mais de dois mil euros para gastar numa prostituta "de luxo" uma semana antes do massacre. Corre ainda o rumor de que o assassino abriria uma garrafa de vinho todos os natais para celebrar a aproximação de uma missão que nunca chegou a explicar aos familiares.
"Ele era uma pessoa que se dava com os outros. Não era um outsider e parecia não ter problemas", contou ao The Independent um ex-colega de escola de Breivik que preferiu manter o anonimato. A sua aparente calma levou todos com quem mantinha contacto a receber a notícia em choque. "Isto não está a acontecer. Parecia não ser capaz de fazer uma mosca. Era muito calmo e terra-a-terra. Passei muitas noites a falar com ele. É inacreditável que tenha feito isto", escreveu num fórum um utilizador com o nome Piltavla, com quem Breivik costumava jogar online.
Numa das suas entradas do Twitter, Breivik adaptou e publicou uma frase de Stuart Mill, dizendo que "um homem com uma crença tem a força de cem mil apenas com interesses", esquecendo-se de que foi o mesmo Mill que disse que "a única liberdade que merece esse nome é a liberdade de procurarmos o nosso próprio bem, pelo nosso próprio caminho, desde que não tentemos privar os outros do seu".
Fonte: DN.PT
Fonte: DN.PT
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