Investigadores portugueses contactados pela Lusa consideraram «trágica» e «catastrófica» a invasão, já que a resistência transformou Timor-Leste num teatro de guerrilha, estimando-se que 50 mil pessoas tenham morrido directamente devido à guerra e outras devido à fome, às doenças e aos trabalhos forçados pelos japoneses. No total, estima-se que mais de 10 por cento da população timorense tenha desaparecido naquele período.
Há também registo da morte de 75 pessoas de origem europeia, 10 em combate, 37 assassinadas e oito em detenção, contou investigador António Monteiro Cardoso.
Além disso, acrescentou, «a destruição foi imensa», devido aos bombardeamentos efectuados, tanto pelos japoneses, como pelos aliados que tentavam expulsá-los. «Díli sofreu 94 ataques aéreos», disse o investigador, autor do livro Timor na 2.ª Guerra Mundial. O Diário do Tenente Pires, acrescentando que poucas foram as casas que ficaram de pé e a maioria das povoações timorenses desapareceu neste período.
A invasão, que ocorreu a 20 de Fevereiro de 1941, um dia depois de um bombardeamento a Darwin, «foi facilitada» porque não havia tropas portuguesas no território, contou o investigador. As tropas vinham de Moçambique e estavam já próximo de Timor-Leste quando os japoneses desembarcaram em Díli.
Apesar de a data não ter sido assinalada oficialmente hoje em Timor-Leste, na segunda-feira o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, referiu-se a estes acontecimentos históricos, durante uma visita que efectua à Austrália.
«Foi um momento definidor na relação entre timorenses e australianos», disse num memorial da guerra, em Sydney, considerando-o também «uma época em que a nacionalidade foi transcendida e, como seres humanos, os nossos povos não só sofreram uma dor profunda mas também fizeram actos de grande altruísmo, o que resultou numa ligação de amizade e de honra numa herança duradoira».
No mesmo dia 20 de Fevereiro de 1941, militares japoneses desembarcaram também em Kupang, no lado holandês da ilha, mas as autoridades do lado ocidental renderam-se ao fim de cinco dias. No lado oriental, tropas australianas preparadas para a guerra de guerrilha infiltraram-se nas montanhas e lançaram emboscadas logo que os japoneses começaram a sair de Díli.
Cedo estes militares contaram com o apoio dos timorenses, chocados com a violência da ocupação dos japoneses, que fizeram pilhagens e violaram mulheres. Também muitos dos portugueses que haviam sido deportados para Timor, sobretudo por questões políticas, se juntaram à guerrilha.
Segundo o investigador Moisés Fernandes, os portugueses não eram mais de 350 a 400 e havia uma divisão entre a elite da administração, que era pró-japonesa, e os restantes, pró-aliados.
Esta ideia é refutada por António Monteiro Cardoso, que defende que os principais administradores do território tomaram partido pelos aliados, contra a vontade do governo do chefe do governo português, António Oliveira Salazar, que exigia a manutenção da neutralidade e manteve relações diplomáticas com o Japão ao longo de toda a guerra.
Para António Monteiro Cardoso, Portugal «esqueceu» a invasão japonesa de Timor durante anos porque «a Salazar não interessava dizer que havia uma zona tocada pela guerra» e também porque a ausência de tropas em 1941 - destinada a garantir a neutralidade portuguesa - poderá ter facilitado a entrada das tropas nipónicas.
Fonte: Lusa/SOL
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