É hora da Grécia sair. Não estou a insinuar que se atire o governo de Atenas pelo precipício do euro abaixo, mas chegámos a um ponto em que esperar pelo melhor é um convite à calamidade.
A zona euro enfrenta dois tipos de problema. O primeiro tem a ver com a insolvência da Grécia, a fragilidade de Portugal, Espanha e Itália, e as dificuldades que os bancos europeus enfrentam. O segundo prende-se com o drama orçamental e a ausência de competitividade nas economias dos países periféricos. Resolver a primeira parte da equação não vai solucionar a segunda, mas temos de começar por algum lado.
A Grécia deve receber a nova tranche financeira prevista. O executivo de Atenas dá mostras de querer reduzir o défice e a colecta de impostos já está em curso. No entanto, a greve geral da semana passada veio mostrar, uma vez mais, que as coisas não estão melhores. A zona euro tem de apresentar o quanto antes aquilo a que os governantes chamam eufemisticamente "programa de reestruturação".
Há políticos europeus que discordam. Berlim lidera esta visão e Angela Merkel diz repetidamente que não vai ceder à pressão dos mercados. As autoridades alemãs recordam a reviravolta nas finanças públicas belgas na década de 1990, assim como os progressos da Irlanda em estabilizar a sua posição. Com tempo e vontade política a Grécia também pode obter bons resultados, argumentam.
Acho pouco provável que acreditem no que dizem. Com a dívida e os défices externo e orçamental em níveis extremamente elevados, a somar à falta de competitividade, a Grécia dificilmente poderá evitar a armadilha da dívida. A receita - austeridade mais austeridade - vai muito simplesmente matar o paciente. A estratégia silenciosa da zona euro passa por manter a Grécia à tona por mais alguns anos. Nessa altura, os restantes estados membros já estarão robustos o suficiente para suportar o choque de um incumprimento.
Evitar riscos morais é sempre um bom princípio, embora também tenha os seus perigos. Jean-Claude Trichet voltou a referir recentemente que os governos devem assumir responsabilidades pela crise em vez de atirarem as culpas para o Banco Central Europeu (BCE). Em teoria, até pode ter razão. No entanto, há situações em que é preciso subverter as regras. A credibilidade do BCE de pouco valerá se se tornar no epitáfio do euro.
Não há nada de misterioso sobre o que tem de ser feito para mitigar os riscos. Antes de mais, é preciso coordenar a recapitalização dos bancos e quadruplicar as verbas do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira para cerca de dois biliões de euros. Para isso, é preciso que o BCE aceite o seguinte preceito: é mais importante salvar o euro do que manter a meta da inflação.
Os mercados têm de ser persuadidos de duas coisas: a zona euro tem recursos para lidar com qualquer eventualidade e, mais importante, os governos podem, e vão, disponibilizar esses recursos. A gestão do incumprimento da Grécia deve ser apresentada como um sinal da vontade política da Europa em fazer o que for preciso para preservar a moeda única.
Deve a Grécia permanecer no euro? Sim, por enquanto. Em Espanha e Portugal, a Europa tem sido vista como a porta de entrada para a modernidade. A Grécia não se esforçou, mas a eventual entrada em incumprimento também não vai absolver Atenas da necessidade de reformar as suas instituições e de modernizar a economia. Se não o fizer, mais tarde ou mais cedo será obrigada a sair do euro. Em todo o caso, cessa é uma decisão que cabe à Grécia tomar.
Fonte: Ecónomico
Fonte: Ecónomico
Nenhum comentário:
Postar um comentário