domingo, 16 de outubro de 2011

Wolfgang Münchau: Zona euro pode transformar-se num monstro político

Quando o óptimo é inatingível tendemos a optar pelo bom. Para a zona euro, a solução óptima seria transformar-se numa união orçamental.

Mas isso poderia não acontecer - ou não acontecer a tempo. Nesse caso, a pergunta surge naturalmente: o que poderia constituir uma solução minimamente ampla para a crise?

A ideia de que a recapitalização dos bancos ocupa um lugar central em qualquer solução que não uma união orçamental ganha cada vez mais adeptos. Não basta, dirão muitos. Teria de ser integrada num sistema de segurança transnacional. Os estados membros manteriam a sua soberania, porém, a zona euro teria de garantir que todos os bancos sistemicamente importantes eram devidamente capitalizados, supervisionados e, se necessário, obrigados a fechar ou a fundir-se. Para isto funcionar, todos os bancos sistemicamente relevantes teriam de ficar debaixo do chapéu-de-chuva da zona euro, a somar aos que têm operações transnacionais.

Se a zona euro tivesse adoptado esta abordagem em Outubro de 2008, logo após a falência do Lehman Brothers, talvez tivesse funcionado. As crises grega e portuguesa não teriam sido evitadas, mas talvez Irlanda, Espanha e Itália tivessem sido poupadas. Poderia não ter funcionado, é um facto, mas há quatro razões pelas quais não funcionaria hoje.

Primeiro, os montantes em jogo são muito maiores. Há três anos, bastaria um fundo de recapitalização com algumas centenas de milhares de milhões de euros. Agora são precisos muitos mais, a juntar ao capital já investido.

Estimo igualmente que os efeitos dinâmicos fossem mais graves no presente. É natural que os governos tenham feito as contas, mas, como sempre, as suas contas são estáticas. Facilmente se pode somar a exposição total dos bancos franceses e alemães à Grécia e calcular os requisitos de capital suplementares. Mas é mais difícil compreender os efeitos dinâmicos do incumprimento grego no sistema financeiro e económico global.

Percebemos isso no stress provocado pela participação relativamente modesta do sector privado acordada na cimeira europeia de Julho. Uma situação de incumprimento, ainda que antecipada, iria disseminar ainda mais incerteza através de múltiplos canais. Sabemos apenas que nunca poderemos recapitalizar o sistema bancário o suficiente para lidar com incumprimentos contagiosos. E se a primeira prioridade fosse preparar o sector bancário para um contágio em vez de impedi-lo?

Segundo, mesmo que os governos da União Europeia (UE) reúnam capital suficiente, vão repetir o erro cometido em Outubro de 2008, quando os líderes europeus se comprometeram a recapitalizar os respectivos bancos. A julgar pelos seus comentários, os líderes europeus não aprenderam nada. A relutância em transferir o poder sobre os bancos para a esfera da zona euro está profundamente enraizada na política nacional.

Terceiro, uma solução que depende do sector financeiro expõe um dilema inerente à estrutura da UE. Um mercado único para a finança é uma competência da União que dificilmente se pode reduzir ao âmbito da zona euro. Os membros exteriores à zona euro, como o Reino Unido, não só não vão aderir a tal sistema como poderão bloquear o modelo de supervisor único para o sector bancário. Este tipo de estratégia vai obrigar os estados membros que não integram a zona euro a aderir à mesma ou a sair da UE. A zona euro poderá, assim, ser salva desagregando a UE, ou vice-versa.

Quarto, uma estratégia de saneamento financeiro pode ser economicamente mais desestabilizadora e financeiramente traumatizante do que os seus defensores pensam - e admitem. Se o sistema não tiver incentivos adequados para reduzir desequilíbrios internos, a instabilidade financeira pode tornar-se o factor dominante e as potenciais transferências correm o risco de aumentar muito rapidamente. São precisas regras para controlar os riscos morais. Ora, a experiência da zona euro de um governo assente em regras tem sido catastrófica. Os líderes europeus correm o risco, procurando uma solução politicamente mais aceitável que uma união orçamental, de criarem um monstro político.

Fonte: Económico

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