George Wright, o fugitivo norte-americano de 68 anos capturado em Portugal na segunda-feira, participou num dos mais dramáticos sequestros de aviões nos EUA nos anos 1970, que teve repercussões políticas importantes.
Nos Estados Unidos, o desvio do voo 841 da Delta Airlines, em 1972, ficou marcado pelas imagens de um agente do FBI (polícia federal) a dirigir-se para o avião na pista do aeroporto de Miami, vestido apenas com um fato de banho, e carregando um saco de dinheiro.
O diário norte-americano New York Daily News escreve na sua edição de hoje que a "humilhação" do "incidente do fato de banho" contribuiu para que o FBI prosseguisse a sua busca por Wright, mesmo ao fim de quase quatro décadas.
A 31 de Julho de 1972, Wright entrou num avião que seguia de Detroit (norte dos EUA) para Miami (sudeste) vestido de padre. Levava uma bíblia - dentro da qual escondia uma arma.
Wright e os seus cúmplices assumiram controlo do avião, tomando como reféns 88 passageiros, e exigiram o pagamento de um resgate de um milhão de dólares (o maior de sempre na altura num caso de pirataria aérea).
"Sigam as minhas instruções ou alguém se magoa", disse um dos raptores por rádio à torre de controlo do aeroporto de Miami, segundo gravações reproduzidas pela televisão NBC.
"Estamos agora a meter o dinheiro em malas", respondeu a torre. "Antes de deixarmos sair passageiros, tem de estar aqui o dinheiro", disse o sequestrador.
Nos relatos da época da imprensa norte-americana, o número de cúmplices de Wright varia. Segundo a agência Associated Press o grupo incluía dois ou três outros homens, mais duas mulheres e ainda três crianças.
Certo é que as exigências dos raptores foram atendidas: um agente do FBI, só com um fato de banho vestido (para não poder ocultar armas), entregou o resgate. O avião seguiu para Boston, onde foi reabastecido, partindo para a Argélia.
Os sequestradores foram recebidos em Argel por Eldridge Cleaver, um ativista e escritor norte-americano com ligações aos Panteras Negras, movimento radical negro norte-americano.
O Presidente argelino da altura era Houari Boumédiène, cujo regime pertencia ao grupo dos Não-Alinhados e apoiava movimentos subversivos em África, na América Latina e nos EUA. No entanto, Boumédiène estava em negociações com Washington e queria manter boas relações com o Ocidente.
A Argélia manteve os sequestradores sob prisão domiciliária durante alguns dias (embora não os tenha expulsado nem prendido) e confiscou o avião e o resgate, que acabaria por devolver aos Estados Unidos.
Em 1976, os sequestradores - com excepção de Wright - foram detidos e julgados em França. A justiça francesa recusou contudo expatriar os sequestradores para os EUA, considerando que o caso tinha contornos "políticos".
As repercussões políticas do caso do Delta Airlines 841 não se ficaram por aí. No final dos anos 1960 e no início dos anos 1970 registaram-se vários desvios de aviões nos EUA, alguns dos quais causando mortos; em 1974, o presidente Richard Nixon promulgou um pacote legislativo para melhorar a segurança aérea nos EUA, que incluiu, pela primeira vez, a obrigatoriedade de todos os passageiros passarem por detectores de metais nos aeroportos.
Fonte: DN.PT
Fonte: DN.PT
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