Uma bicicleta é uma solução mais ecológica, mais saudável e mais económica, defende Beatriz Pereira, investigadora da Universidade do Minho (UM), que propõe que as autarquias ofereçam este meio de transporte aos alunos do 1.º ao 9.º anos, em vez de pagar passes escolares. A Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) não vê vantagens nesta sugestão. “Penso que não é exequível. Os pais não aceitariam que os filhos fossem assim transportados. É perigoso e no Inverno, com a chuva, não é fácil”, avalia António Ganhão, vice-presidente da ANMP.
Beatriz Pereira defende que as autarquias gastariam menos dinheiro ao oferecer uma bicicleta, promovendo um estilo de vida mais saudável e incentivando a prática de actividade física.
Ana Pereira, proprietária da Cenas a Pedal, uma empresa dedicada à mobilidade em bicicleta, concorda com a ideia, sobretudo aplicada a crianças a partir dos dez anos, que “têm perfeitas condições físicas para praticar ciclismo”. Realça, porém, que o preço médio de uma bicicleta mais económica e mais funcional varia entre 100 e 200 euros. Mas alerta que, quando o objectivo é utilizar uma bicicleta como meio de transporte, esta tem de ter características essenciais como luzes, bagageiras para transportar as mochilas e pára-lamas, o que encarece. Além disso, um passe escolar permite que as crianças utilizem mais meios de transporte do que a bicicleta, acrescenta Ana Pereira.
Contudo, uma bicicleta, a médio prazo pode ficar mais barata do que o passe escolar que pode custar, no mínimo (com 50% de desconto), 26,25 euros para a cidade de Lisboa e 22,50 para o Porto. Ou seja, são necessários cerca de quatro meses para comprar uma bicicleta de 100 euros.
Do ponto de vista ambiental, Beatriz Pereira defende que o facto de os alunos passarem a utilizar uma bicicleta nas deslocações entre casa e escola reduziria os índices de poluição, uma vez que a maioria “chega mesmo à porta da instituição através do automóvel ou do autocarro”, lê-se em comunicado da UM.
Com base na experiência dos países nórdicos, a investigadora diz que esta solução é perfeitamente aplicável no contexto português. “Nos países nórdicos, onde há muito frio, vê-se de manhã pais e filhos a pedalar de casa até à escola e, ao fim do dia, regressam. Até os alunos e professores universitários o fazem”, realça, lembrando que a distância média do aluno português até à instituição de ensino é de três a cinco quilómetros, logo, trata-se de “uma distância perfeita para pedalar”.
Segurança
Quanto à criação de ciclovias, que existem em vários países europeus e permitem que os ciclistas circulem num trajecto exclusivo, a docente da UM é de opinião que uma “cultura de respeito pelo outro” é suficiente. “Onde circula um automóvel pode circular uma mota ou uma bicicleta, basta haver uma cultura de respeito pelo outro”, afirma em comunicado.
Ana Pereira concorda com a investigadora, dizendo que a prioridade não é a criação de ciclovias, mas “direccionar o tráfego para ruas mais calmas, em que os automóveis não circulem a velocidades tão elevadas”. Salienta, no entanto, que, junto às escolas, o tráfego costuma ser caótica justamente pelos pais que vão levar ou buscar os filhos.
Neste sentido, a investigadora salienta a necessidade de uma “educação para a segurança”, em que os cidadãos devem aprender a respeitar a circulação de bicicletas nas ruas e nos passeios. Defende ainda que os acessos junto às escolas devem ser preparados para a pratica de ciclismo e devem ser criadas infra-estruturas que permitam o parqueamento seguro das bicicletas.
“Oferecer uma bicicleta é só parte do processo”, diz Ana Pereira, acrescentando que tanto a formação rodoviária como em relação à utilização de bicicletas é essencial. “Uma criança de seis ou sete pode saber andar de autocarro, mas não é necessariamente capaz de utilizar uma bicicleta sozinha”, defende.
Exercício físico
Um dos principais argumentos para a aplicação desta sugestão prende-se com o aumento da actividade física que a utilização de bicicletas passaria a proporcionar. Segundo Beatriz Pereira, esta opção poderia originar desportistas nalgumas áreas e tornar os cidadãos mais resistentes, prevenindo, igualmente, doenças crónico-degenerativas e gastos com a saúde.
A investigadora realça que o período lectivo dedicado à prática de Educação física, 2h15 (90 minutos mais 45 minutos) é bastante inferior à recomendação da Organização Mundial da Saúde de 1h diária. Deste modo, a docente da UM defende que a resposta para evitar a obesidade infantil e o sedentarismo deveria vir “de períodos informais”, como o desporto escolar e actividades extracurriculares como natação, ballet e judo. António Ganhão considera que é importante que as actividades extracurriculares se transformem em curriculares, para, nalguns casos, “poderem ser desempenhadas com mais qualidade”.O PÚBLICO tentou contactar a investigadora, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.
Fonte: Público
Fonte: Público
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