sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O que está a provocar o pânico nas bolsas?

As principais bolsas mundiais vivem momentos delicados e não é só a crise de dívida a afectar as acções.

Os principais índices mundiais perdem mais de 10% nos últimos dias. Apesar da tendência negativa já não ser de agora, há vários factores a levar os investidores a fugirem das bolsas. Além da crise de dívida, os especialistas contactados pelo Económico apontam as preocupações em torno da economia mundial e o impacto desta desaceleração nos resultados das empresas.

Crise das dívidas
Depois da Grécia, Portugal e Irlanda, a pressão dos mercados está agora sobre a terceira e a quarta maiores economias do euro: a Espanha e a Itália. Além disso, os próprios EUA já estão a ser afectados pelo excesso de dívida pública, que levou ao ‘thriller' da aprovação do aumento do tecto de dívida.

"A crise de dívida soberana que nas últimas semanas ultrapassou os países mais pequenos da periferia, Portugal, Grécia e Irlanda. Neste momento a crise passou para outro nível, abatendo-se sobre economias de larga escala como a Itália e a Espanha. O mercado apercebeu-se que o ritmo de deterioração do mercado de dívida e dos mercados de risco em geral ultrapassa o do processo de decisão político, quanto na medidas adicionais de controlo da crise", referiu o analista da IG Markets Duarte Caldas.

Dados económicos negativos
Além das preocupações sobre os mercados de dívida, o mercado começa a temer um abrandamento da economia. O gestor de fundos do Banco Carregosa, Tiago Ribeiro Pereira, entende que "o medo está instalado no mercado e a conjugação de muitos factores, entre eles, a crise da dívida soberana e a desaceleração económica", o que justifica as quedas das últimas sessões.

Duarte Caldas relembra que "os recentes dados económicos de actividade indicam um claro abrandamento a nível mundial, quer na China, EUA e Europa. Os PMI's da indústria norte americanos por exemplo esta semana cifraram-se umas décimas acima da barreira de 50, que separa expansão de contracção. Isto veio agudizar ainda mais a crise de confiança, porque os investidores começam a descontar um forte abrandamento económico além dos problemas conhecidos de confiança". Os PMI são indicadores avançados que permite aferir a saúde da economia.

Resultados das empresas
Um abrandamento económico pesa nos resultados das cotadas, o que pressiona os preços das acções. "A instabilidade relacionada com os temas da divida nos EUA e Zona Euro alimentaram e alimentam a correcção dos mercados. Mas o factor mais importante prende-se com a evolução da época de resultados que está claramente abaixo das estimativas", defende o responsável pela análise de acções do Millennium IB. António Seladas observa que ao acompanhar a evolução da época de resultados e confrontando-a com as estimativas, "o indicador "Surprise Level" está negativo em cerca de 7 pontos para o S&P500, ou seja desde o inicio do mês de Julho, onde fixámos as estimativas para os resultados do 2T11 as estimativas de crescimento dos resultados, estão cerca de 7 pontos percentuais acima das taxas de crescimento efectivamente divulgadas". 
Já Tiago Ribeiro Pereira considera que "os resultados têm sido globalmente bons, eventualmente, nalguns casos, não tão bons quanto as expectativas. O problema é que a bolsa não se move por os resultados serem melhores ou piores que o esperado, mas pela expectativa dos resultados futuros. O que os investidores estão a antecipar agora é uma desaceleração económica e a incapacidade dos Estados de suportar algum crescimento económico porque estão, eles próprios, com problemas de dívida".

PSI 20 não escapa às perdas
O PSI 20 também não escapou ao pessimismo dos investidores em acções. Aliás, em 2011 até apresenta um desempenho pior que os pares europeus (perde 16,6%, o que compara com os 11% cedidos pelo Stoxx 600). "A praça portuguesa é muito sensível à tendência das praças mundiais e tende, aliás, a exagerar a tendência, reagindo com maior volatilidade e maior amplitude nos preços. Ou seja, o mercado nacional "exagera" sempre os movimentos", observa o gestor do Banco Carregosa. Já Duarte Caldas relembra que "o PSI20 além de sofrer por esta conjuntura negativa a nível mundial é o índice de uma economia que está a ser intervencionada pelo FMI, com todas as restrições que isso comporta". Além disto, Tiago Ribeiro Pereira, salienta que "há particularidades de algumas empresas e há casos em que o impacto da situação económica do país é mais forte na acção do que na empresa, isto é, a acção sobre reage, apesar de objectivamente a empresa não ser tão afectada. Por exemplo, as receitas de tráfego da Brisa caíram, no 1º semestre, 1,7%. Mas a acção Brisa caiu cerca de 50% desde Fevereiro! O dividend yield da Brisa é superior a 10%!".

Quedas são para continuar?
Dada a turbulência dos últimos dias, os olhos viram-se novamente para as autoridades. António Seladas afirma que "a pressão sobre as autoridades monetárias, nomeadamente Reserva Federal e Banco Central Europeu, no sentido de adoptarem politicas monetárias mais relaxadas está claramente a aumentar". O BCE anunciou ontem algumas medidas para acalmar os mercados mas que não tiveram efeito. 
Já Tiago Ribeiro Pereira confessa que "por muito que me custe, a tendência de curto prazo é de queda. Mas também não tenho dúvidas de que quando houver uma recuperação a subida vai ser forte. Creio é que não está para breve. A economia mundial está muito alavancada, os Estados estão muito alavancados e é preciso desalavancar, o que não se fará sem dor".

Fonte: Económico

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