Vencedor do Óscar por «O Bom Rebelde» e protagonista de filmes marcantes ao longo de 30 anos, Robin Williams morreu aos 63 anos. Suspeita-se que a morte, por asfixia, tenha sido um suicídio.
Robin Williams morreu esta segunda-feira de manhã aos 63 anos. Vários órgãos de comunicação social norte-americana adiantaram tratar-se de suicídio. Embora a sua representante não tenha ido tão longe, o comunicado oficial refere que o ator «estava a lutar contra uma grave depressão. Esta é uma trágica e súbita perda. A família respeitosamente pede para que seja respeitada a sua privacidade durante o seu luto neste momento muito difícil». De acordo com o comunicado do chefe de polícia de Marin County, suspeita-se de «suicídio por asfixia».
Susan Schneider, a sua esposa, de quem se separara durante algum tempo, enviou também um comunicado: «Esta manhã perdi o meu marido e o meu melhor amigo, enquanto o mundo perdeu um dos seus mais amados artistas e seres humanos. Estou completamente de coração partido. Em nome da família de Robin, pedimos privacidade durante este nosso tempo de profunda tristeza. Conforme ele é recordado, a nossa esperança é que o foco não seja na morte do Robin, mas nos inúmeros momentos de alegria e riso que ele deu a milhões de pessoas.»
Na década de 70 e inícios de 80, Williams teve uma forte dependência do álcool e da cocaína, que ultrapassou na sequência do nascimento do primeiro filho e do susto com a morte por «overdose» do amigo John Belushi. Vinte anos depois recaiu no vício do álcool, o que o levou a internar-se em 2006 numa clínica de reabilitação, algo que voltaria a fazer em janeiro deste ano, no que indicou ser apenas uma pausa para repouso no meio de uma agenda carregada de trabalho.
O ator tem por estrear uma comédia do circuito independente, «Merry Friggin’ Christmas», com Lauren Graham e Oliver Platt, a 7 de novembro, e «À Noite, No Museu 3», onde volta a ser o presidente Theodore Roosevelt ao lado de Ben Stiller, a 19 de dezembro. Sem data estão «Boulevard», um drama de Dito Montiel, e a comédia britânica «Absolutely Anything», de Terry Jones, com Simon Pegg e Kate Beckinsale, onde dá voz a um cão. Tinha também assinado contrato para voltar a ser Mrs. Doubtfire na continuação do seu grande êxito de 1993, novamente dirigido por Chris Columbus.
Um ícone que viveu intensamente entre a comédia e o drama
Nascido a 21 de julho de 1951, foi bolseiro na prestigiada Julliard School de Nova Iorque ao mesmo tempo que servia em bares e fazia o circuito de «stand-up» nos clubes noturnos ao lado de parceiros como Eddie Murphy, Jerry Seinfeld ou Jon Stewart. «A comédia é o meu oxigénio», diria muito mais tarde.
Em 1977, estreou-se na televisão e tornou-se logo um fenómeno. Significativamente, como um extraterrestre em «Mork and Mindy». A personagem surgira primeiro em dois episódios de «Happy Days» e um dos seus atores, Henry Winkler, em declarações ao Hollywood Reporter, recordou o talento incontrolável e como a sua única tarefa se tornou «manter uma cara séria», observando que os argumentos subsequentes de «Mork e Mink» eram 15 páginas mais curtos, com notas que frequentemente referiam «Robin vai fazer alguma coisa aqui».
A passagem para o grande ecrã deu-se em 1980 com uma adaptação dos «comics» sobre o marinheiro que come espinafres para ter força: os resultados de «Popeye» não foram felizes, não obstante o seu talento e a presença de Robert Altman atrás das câmaras. Pelo contrário, todos repararam quando foi o excêntrico escritor em «O Estranho Mundo de Garp», dois anos mais tarde, ao lado de Glenn Close, que se tornaria um dos títulos mais importantes da sua carreira.
Sucederam-se filmes de qualidade muito desigual como «Os Sobreviventes», «Um Russo em Nova Iorque» (uma primeira viragem dramática), «Clube Paraíso» e «A Brigada do Reumático», até que se dá a viragem com «Bom Dia, Vietname», com Barry Levinson a controlar e tirar o melhor partido do seu explosivo talento como Adrian Cronauer, o indomável animador radiofónico das forças armadas em Saigão. Obteve uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator, acontecimento pouco comum para o género.
Robin Williams tornou-se mais exigente com os argumentos. Do encontro com Peter Weir, realizador conhecido pelo seu rigor, resulta o segundo filme a que sempre estará associado, «O Clube dos Poetas Mortos»: ele era John Keatin, o novo professor de literatura inglesa que chegava ao colégio interno de Welton em 1959 e se tornava o «capitão» que revelava aos seus jovens estudantes poetas como Keats, Byron e Walt Whitman, abrindo-lhes novos horizontes para existências que pareciam pré-estabelecidas. O mesmo sucedeu na vida real com muitos dos que o viram: tornou-se um fenómeno cultural (em Portugal esteve mais de um ano em exibição nas salas) e revelou atores como Ethan Hawke, Robert Sean Leonard e Josh Charles, bem como o talento dramático de Williams, novamente nomeado para o Óscar. «Carpe diem. Aproveitei o dia, rapazes. Tornem as vossas vidas extraordinárias» tornou-se um lema de vida para gerações de espetadores.
A presença secundária em «Despertares» (90), de Penny Marshall, ao lado de Robert De Niro, e depois com Jeff Bridges em «O Rei Pescador» (91), de Terry Gilliam, e que foi a sua terceira nomeação para o Óscar, consolidam o estatuto enquanto ator e estrela de cinema.
O sucesso banalizou um talento único
Uma segunda fase da carreira, com o regresso à comédia e a dominar grande parte das atenções, começa com três inesperados e sonantes fracassos comerciais de Roger Donaldson, Steven Spielberg e Barry Levinson, «Um Sedutor em Apuros» (90), «Hook» (91) e «Toys - Fabricante de Sonhos» (92), este um projeto muito pessoal. No entanto, ao mesmo tempo, é justo dizer que o impacto do seu trabalho vocal como génio em «Aladdin» (92) se revelou determinante no lento processo de recuperação da animação da Disney, que começara com «A Pequena Sereia» (89), continuaria com «A Bela e O Monstro» e culminaria em «O Rei Leão» (94), não obstante uma posterior zanga com o estúdio por causa da partilha de receitas, bem como no lançamento do movimento de colocar estrelas de cinema a dar voz a personagens de animação.
«Papá Para Sempre», em que era um pai desempregado que se torna uma competente governanta inglesa para estar mais perto dos filhos após um processo de divórcio, afirma-se como o outro marco importante: ali está o louco talentoso, o génio do improviso e a super estrela da comédia. De certa forma, nas irregulares comédias que se seguiram esteve completamente à solta para combinar esses elementos e apesar de vários terem sido bem sucedidos, a alquimia perfeita só se repetiria quando tinha um realizador capaz de controlar os exageros, como sucedeu com Mike Nichols em «Casa de Doidas», em que o papel mais expansivo até foi entregue a Nathan Lane.
Assim, a uma muito elogiada participação dramática na série «Departamento de Homicídios» para Barry Levinson seguiram-se títulos como «Jumanji», «Nove Meses» (cuja presença caricatural antecipava o tom de muitos dos papéis após a mudança de século) ou «Jack», que muitos não perdoam a Francis Ford Coppola.
Em 1997, quando os melhores momentos dramáticos pareciam ter ficado para trás e parecia reduzido a filmes como o desastroso «O Dia dos Pais», ao lado do amigo Billy Cristal, ou «Flubber - O Professor Distraído», surgiu «O Bom Rebelde». E na época como agora, o Óscar recebido como ator secundário foi entendido como uma compensação pelos títulos anteriormente que lhe tinham valido nomeações.
Com exceção de «Patch Adams» (98), a grande maioria dos filmes que se seguiram à consagração artística, entre ambiciosos e banais, nada acrescentaram. Pelo contrário, alguns, como «Para Além do Horizonte» e «O Homem Bicentenário», foram mesmo notórios e caríssimos fracassos comerciais que marcaram o início de um lento declínio que infelizmente grandes interpretações em «One Hour Photo - Câmara Indiscreta» (02), «Insomnia» e «Smoochy», não por acaso as suas mais pessimistas, não conseguiram contrariar. Entre muitas presenças secundárias a roçar a caricatura que não faziam justiça ao seu legado, destacam-se «Happy Feet», um sucesso da animação, e a interpretação secundária como o presidente Eisenhower em «O Mordomo».
Em 2013, regressou à televisão com «The Crazy Ones», cancelada ao fim da primeira temporada a 10 de Maio. «The Angriest Man in Brooklyn», de Phil Alden Robinson, o último filme a estrear em vida, estreia em Portugal a 9 de outubro.
-- cinema.sapo.pt
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Até sempre...
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