quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre a Traição

Sobre a traição

Sobre a traição

A traição é um fenómeno difícil de se mensurar mas parece que as mulheres estão cada vez mais infiéis e que os homens infiéis começam a sentir-se culpados

A independência feminina promoveu mudanças na mulher em muitos aspectos da sociedade, especialmente no que se refere ao mercado de trabalho.


Actualmente os casais são mais cúmplices, construindo e provendo o lar em igual proporção. Ao trair, o homem sente destruir o vínculo de lealdade com alguém que divide tudo com ele. E há ainda a possibilidade de a mulher sair de casa e abandoná-lo se souber do caso - o que era uma atitude improvável alguns anos atrás - e a mudança na relação com os filhos.
Parece que ter uma aventura fora de casa significa uma vergonha para o homem. Agora o homem que trai sente que faz algo errado, enquanto antes isso não era nem colocado em questão.
Tédio do casamento
As últimas pesquisas revelam que a maioria dos homens é infiel, mas divergem sobre o número de mulheres que traem. O resultado é de que 47% das mulheres e 60% dos homens são infiéis e alguns psiquiatras constatam que 67% dos homens e 23% das mulheres já traíram o parceiro. Mensurar dados sobre infidelidade é tarefa complicada. Não há como verificar se quem responde às pesquisas está mesmo dizendo a verdade, nem há como garantir que a presença do entrevistador não influencia a resposta do entrevistado e, ainda, muitas vezes, o questionário é respondido na frente do parceiro.
Estudiosos classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos: a traição como desejo de novidade para vencer o tédio do casamento; a traição como afirmação da feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a síndroma de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre a infidelidade feminina), em que a insatisfação afectiva leva à busca de um amor romântico que não existe.
Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de maneira diferente. Nas pesquisas entre as respostas mais frequentes dos homens estão: por se sentirem atraídos sexualmente e porque as circunstâncias lhes foram favoráveis. Poucas têm a ver com amor ou envolvimento afectivo. No caso das mulheres, os motivos mais citados foram decepção, desamor e raiva do parceiro. Outro dado curioso se refere à incidência das traições. A maioria ocorre nos primeiros quatro anos de casamento. 
Para os homens, o segundo foco acontece entre os 20 e 24 anos de união. Entre as mulheres, entre o quinto e o nono ano de casamento.
Um dos percentuais mais altos de respostas nas pesquisas diz respeito à vontade dos entrevistados de ter um romance fora do casamento: cerca de 60% dos homens e 55% das mulheres. As razões pelas quais ambos evitam o adultério são curiosas. Elas não querem que o marido faça o mesmo. Eles não querem confusão.
Trauma da infidelidade - Por ser polémica até a raiz, a infidelidade suscita uma série de mitos infundados. Um deles: o de que a maioria das traições destrói os casamentos. De acordo com as pesquisas, cerca de 30% dos traídos terminaram a relação. O resultado revela que a maioria absoluta de homens e mulheres procura esquecer o que passou. O maior obstáculo é, sem dúvida, conseguir ultrapassar o choque inicial.
Outro folclore em torno do adultério é que ter um caso pode reacender o casamento. De facto, o que pode ocorrer é um dos parceiros (o traidor, óbvio) se sentir "reaceso". Dificilmente quem foi traído ficará animado com a notícia. É quase impossível um dos parceiros ser condescendente com a traição.
Infidelidade é um dos poucos assuntos sobre o qual a civilização ocidental é intolerante, por envolver mentira, decepção e o rompimento de um pacto muito forte entre o casal. No entanto, é possível superar o trauma e, em muitos casos, até sair do problema com a relação fortalecida.
Na traição, o ideal de casamento desmorona. Passa-se a enxergar o marido e ele a mulher como na vida real. Na avaliação dos terapeutas, a melhor forma de tratar o assunto é tentar enxergar exactamente as razões da infidelidade. Não adianta o infiel declarar-se culpado ou tentar convencer o parceiro de que não sabia onde estava com a cabeça.
A atitude mais correcta é assumir que estava, de facto, em busca de satisfação fora do relacionamento e reconhecer que magoou o cônjuge. O traído, por sua vez, aprenderá alguma coisa se entrar em contacto com sua ferida profunda, com seu sentimento de indignação e se conseguir reavaliar o modo como escolhe suas parcerias amorosas.
É muito comum entre pessoas traídas assumir a responsabilidade pelo fracasso da relação. Perguntar-se "onde eu errei?", "por que eu o pressionei tanto?" Na infidelidade, não existem culpados nem vítimas. Mesmo quem foi traído carrega um fardo enorme. A terapia é muito importante para dividir muito bem a responsabilidade de cada um na história. É impossível dizer por que um dos parceiros trai. É outro aspecto a ser desmitificado: o de que o adultério só atinge casais em crise. Não é verdade. Há também casos de infidelidade em relações muito bem sucedidas. É impossível dizer se foi por atracção sexual, por vontade de correr riscos ou por paixão. No fundo, não é nem porque o outro é mais bonito ou mais interessante. Mas é que sempre representa uma novidade.
Mitos sobre adultério
  • "Ter um caso pode reacender o casamento."
    Não é verdade. Se o casamento já anda mal, pode ser o empurrão que falta para acabar de vez. A traição pode até reacender o ânimo de um dos parceiros (o traidor, óbvio), mas pode destruir o do outro.
  • "Trair é normal."
    Não é. Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de se estar vivendo mais, é melhor casar várias vezes. Contudo, o mais importante é ter uma relação que garanta felicidade, conforto e protecção. E um caso extraconjugal proporciona exactamente o contrário.
  • "Trair é da natureza humana."
    Há muitos estudos que tentam provar a tese de que mamíferos, ovíparos e até insectos são infiéis por natureza. Mas não existe comprovação científica.
  • "Homens traem mais do que as mulheres."
    É uma das únicas verdades absolutas no que diz respeito à infidelidade. Nos últimos tempos, no entanto, chama a atenção o percentual de mulheres infiéis.
  • "Só casamentos em crise estão sujeitos ao adultério."
    Não. Acontece também em relações muito bem sucedidas. Parece que é quase impossível manter um relacionamento perfeito o tempo todo, os casos costumam ocorrer em momentos piores.
  • "Eu tenho culpa por ter sido traído(a)."
    Claro que não. O parceiro tem outros caminhos para resolver problemas no casamento. Mas é importante prestar atenção em seu comportamento e no da pessoa amada. Em que momento vocês permitiram que o casamento mudasse de rumo?
Os genes da traição
Nos últimos tempos, uma série de explicações biológicas tem aparecido para justificar a infidelidade. Um livro recém lançado nos Estados Unidos defende a tese de que a traição, seja entre humanos, pássaros e até pulgas, é regra. Na natureza, a monogamia é rara. O Mito da Monogamia: Fidelidade e Infidelidade em Animais e Humanos, escrito pelo zoólogo e psicólogo David P. Barash e pela psiquiatra Judith Eve Lipton, diz que até mesmo os cisnes são infiéis.
Outra tese polémica é a do médico Stephen Emlen, da Universidade Cornell. Emlen afirma que nove entre dez mamíferos são infiéis. "A verdadeira monogamia é muito rara", diz. Segundo ele, há dois tipos de monogamia: a genética e a social. No primeiro caso, a fidelidade é uma excepção. Segundo Emlen, apenas uma espécie de macaco é fiel. No caso da monogamia social, o casal está junto com um objectivo definido: criar os filhos. É uma decisão deliberada dos parceiros. Especialistas acreditam que a fidelidade se mantém graças ao mito de que espécies cujas proles foram criadas por pais casados vivem melhor. Seria uma justificativa da monogamia humana.
O professor Tim Spector, investigador do Hospital St. Thomas's em Londres, estudou duplas de mulheres gémeas e afirma que se uma delas tivesse um histórico de infidelidade, as chances de a irmã apresentar o mesmo comportamento seriam de 55%, maior do que a média de mulheres que traem seus parceiros que é de 23%. Ele também relata que a infidelidade não é somente regulada pelos genes, mas também é influenciada pelo comportamento social: como desejo de aventura ou outras necessidades relacionadas com a personalidade.
Outro estudo científico publicado pela revista britânica “Nature”, afirma que alterando-se um único gene pode-se regular o comportamento notoriamente promíscuo de roedores em companheiros fiéis e monogâmicos.
O gene controla a produção da proteína receptor de vasopressina, presente naturalmente em maior quantidade em um tipo semelhante de roedor (Microtus ochrogaster), que é monogâmico. A proteína regula comportamento social e a formação de pares. A concentração maior é localizada em uma região frontal do cérebro envolvida na sensação de recompensa e no desenvolvimento de compulsões.
Não sabemos porém se no ser humano também funciona assim, pois o comportamento sexual e sentimental humano é moldado pela interacção entre complexos factores ambientais e culturais com não apenas um, mas possivelmente diversos genes.
Dicas para reconstruir a relação
  • Respostas defensivas vão sempre parecer desculpas sem nexo. Seja claro e objectivo.
  • Fuja dos questionamentos exaustivos. Simples questões como "onde" "quando" e "quem" podem ser relevantes para aliviar as pressões por repostas mais complexas como "por quê".
  • Evite dar detalhes sobre o caso até que o outro comece a digerir melhor a história.
  • Corte por inteiro o vínculo com a terceira pessoa. Não adianta só abandonar o sexo. Discussões pessoais, cafés e telefonemas devem ser eliminados. Se o caso é um colega de trabalho o contacto deve ser estritamente profissional.
  • Qualquer encontro, mesmo involuntário com o caso, deve ser relatado ao parceiro.

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