sexta-feira, 30 de julho de 2010

2,5 milhões desviados através de 'mails' falsos

2,5 milhões desviados através de 'mails' falsos
Só a PJ de Lisboa tem mil processos em investigação relativos a desvio de dinheiro através da Internet. Mulheres desempregadas são as que mais facilmente caem nas redes de 'phishing'.


Quem é que não recebeu na caixa de correio mails com promessas de bons salários a trabalhar sem sair de casa? Ou um mail a pedir que a mensagem seja reenviada para criar uma corrente de sorte, que no final da linha pode revelar-se azarada? Em 70% dos casos, os motivos deste correio electrónico "indesejável" ou "correio não solicitado" são económicos: recolher de forma ilícita endereços electrónicos ou phishing (obter dados para aceder a contas bancárias). A directoria de Lisboa da PJ tem mil processos em investigação relativos a desvio de dinheiro através da Net. São 2,5 milhões de euros desviados só nos primeiros quatro meses do ano.
Este tipo de crime que recorre a mails falsos tem vindo a aumentar nos últimos três anos, a uma média de 25% ao ano. E a situação económica faz que mais pessoas caiam no conto do vigário, explica Rogério Bravo, o responsável da secção de Criminalidade Informática e Alta Tecnologia da PJ.
São redes organizadas que se servem da boa-fé das pessoas para obter informação pessoal e privilegiada e que, em mais de 80% dos casos, actuam a partir do estrangeiro. Mas uma característica deste tipo de burla é "não estar sediado e estar em toda a parte". E é o eixo linguístico que está na origem da escolha dos destinatários: inglês, flamengo, português e francês. Mas têm sido identificados alguns suspeitos que operam em Portugal, um dos quais foi um pedido das autoridades holandesas acerca de um spam (mensagem não solicitada).
Os mails usados no phishing fazem passar-se por entidades bancárias, empresas e até autoridades para obter informação confidencial, atacando dois grupos de pessoas: com disponibilidade financeira e que movimentem as contas através da Internet e as que têm dificuldades económicas. Estas últimas são recrutadas para movimentar o dinheiro, ficando com uma pequena parte, e também são vítimas, com a diferença de que estão a cometer pelo menos um crime, o de branqueamento de capitais e/ou de auxílio material. E não serve de justificação dizer que não sabia de nada, até porque, do outro lado, está alguém que ficou sem dinheiro na conta bancária.
"Infelizmente, há muita gente que continua a cair e que responde aos mails, por exemplo a propostas de emprego, algumas porque estão com dificuldades económicas e julgam ter encontrado uma forma de sair da situação, e outras por ganância e que são seduzidas por este tipo de negócio", diz Rogério Bravo.
Aquelas vítimas são maioritariamente desempregadas e do sexo feminino, com algum apoio social, sendo que as redes sociais são uma boa forma de as seleccionar, diz o inspector da PJ. "O phishing traz verdadeiros danos sociais. Os bancos cancelam as contas dessas pessoas, que já não tinham dinheiro e que ficam numa situação ainda pior", sublinha.
E há, ainda, quem recorra a uma informação verdadeira, uma criança que está doente, por exemplo, para angariar apoios monetários e ficar com esse dinheiro.
O segundo grande leque do crime informático representa 20% do total e diz respeito à devassa da vida privada de pessoas, por maldade ou por vingança. Alguém - um perito que tem que ver com a informação, método que pretende tornar credível o conteúdo da mesma (ver caixa) - põe a circular um boato sobre uma pessoa. A directoria da PJ de Lisboa tem 200 processo destes.
Os restantes 10% dizem respeito a pessoas que recorrem à Internet por divertimento, nomeadamente a espalhar o pânico. A PJ regista quatro a cinco casos por ano .
O principal problema da investigação é chegar à fonte desse correio electrónico. As redes utilizam o blind carbon copy ou BBC para que esconder os endereços. Enviam os primeiros mails para elementos da rede, perdendo-se o rasto na multiplicação de envios. "Raramente se consegue saber a origem, e as pessoas continuam a possibilitar a sua circulação, seja para infectar o computador com vírus seja para aumentar as listas de e-mails, às vezes sabendo até a actividade profissional dessas pessoas, listas que depois vendem", explica uma fonte da Comissão Nacional de Protecção de Dados.

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