sábado, 11 de junho de 2011

Ouro é negócio em tempo de crise

A subida da cotação do ouro fez disparar o negócio. As lojas multiplicam-se e a crise ajuda: há quem venda jóias da mãe para lhe pagar o funeral ou a aliança para saldar a renda.

Há quem venda as jóias da mãe para lhe pagar o funeral, quem se desfaça de um fio para pôr gasolina no carro e até quem faça negócio com dentes de ouro pela internet. A crise e a subida do preço deste metal precioso nos mercados estão a fazer aparecer lojas de compra de ouro em cada esquina. Para muitos é um bom negócio; para outros uma maneira de chegar ao final do mês.

Quem está ao balcão das lojas de ouro usado explica que são sobretudo mulheres e idosos que entram à procura de converter em euros as peças que têm por casa.

«Há muitos idosos que vendem jóias e até alianças para pagar a conta da luz ou a renda da casa», diz Quimji, um indiano que herdou do pai uma ourivesaria aberta há mais de 30 anos no Intendente, em Lisboa.

O negócio já foi de venda de jóias, mas agora é a compra que dita os dias. «As pessoas precisam de fazer dinheiro e desfazem-se de peças antigas, porque não têm quem os ajude ou querem ajudar os filhos desempregados».

Quimji encheu as montras de cartazes parecidos com os que usam as lojas que funcionam em franchising e os clientes têm chegado, mas a margem de lucro, queixa-se, é reduzida.

«O que dá lucro é derreter o ouro e vendê-lo em barras», explica, adiantando que não trabalha como casa de penhores. De resto, quem vende só volta para se desfazer de mais peças. «Não voltam para comprar, porque não têm dinheiro», conta Quimji.

Fio para pagar gasolina

Rogério Sousa abriu a loja Ouroport há oito meses, no Largo do Leão, em Lisboa, mas não contava com tanta concorrência.

No espaço que vai do início da Avenida Almirante Reis à Praça do Chile, não chegam os dedos de uma mão para contar todos os sítios onde é possível vender ouro usado. «A concorrência é muita», admite Rogério, que já se habituou a ver os clientes entrar e sair das lojas à procura de conseguir o melhor preço.

O desespero é o fio condutor da maior parte das histórias. «Tive aqui um rapaz que se desfez de uma jóia com a fotografia da mãe, para lhe pagar o funeral», conta o brasileiro, que já se habituou a confortar com palavras da Bíblia que tem em cima da mesa quem lhe entra na loja.

«Há pessoas em situações muito complicadas e quando vêm vender o ouro, dou uma palavra de ajuda». Alguns vêem nas jóias uma forma rápida de fazer dinheiro. «Já tive um senhor que ficou sem gasolina aqui à porta da loja e entrou para vender um fio de ouro que o pai lhe tinha dado».

Quem está nas lojas garante que prefere comprar a pessoas de idade. Em todos os casos, é obrigatório preencher uma ficha com os dados dos clientes, para enviar à Polícia Judiciária. «Durante 21 dias úteis o ouro fica guardado», esclarece Quimji que, a trabalhar na zona do Intendente, não quer correr o risco de comprar ouro roubado.

Mas o negócio floresce até fora das lojas. Basta subir a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, para aparecer quem tenha fios e alianças de ouro para vender no meio da rua. «Se achamos que o negócio é suspeito, não compramos. É natural que vão para a rua tentar vender», admite Rogério Sousa, que até já teve clientes a tentar passar-lhe ouro falso.

A segurança é a maior preocupação. Quem entra na loja de Rogério é atendido num gabinete, vigiado por câmaras. Tudo fica gravado em vídeo e, além disso, Rogério está ligado por um circuito de videovigilância às outras lojas – que tem com um grupo de sócios em Viseu, Mangualde, Tondela e Aveiro.

Três vezes por dia, um estafeta vem buscar as peças compradas e leva-as para o cofre da empresa que presta este serviço à Ouroport. «E também não costumamos ter dinheiro vivo. Preferimos trabalhar com multibanco». Mesmo assim, já teve um susto: «Um brasileiro entrou aqui com uma mão atrás das costas, talvez para fingir que tinha uma arma». Rogério estava acompanhado pelo seu pastor evangélico e a surpresa de encontrar dois homens na loja fez o intruso fugir antes de tentar roubar.

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