Se a Grécia saísse do euro, as consequências seriam "catastróficas", consideram analistas contactados pela agência Lusa, acrescentando que isso abriria "um precedente" para que outros países abandonassem a moeda única e que Portugal teria o mesmo destino.
Viriato Soromenho Marques, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, considera que "infelizmente [a saída da Grécia do euro] é uma possibilidade", mas teria "consequências catastróficas", que são "neste momento incalculáveis".
Tal, prevê, seria "péssimo para Portugal, para Espanha, para Itália e para a Zona euro" e seria sempre "uma saída desordenada": "Uma saída ordenada implica um tempo de negociação que os mercados não vão dar [à Grécia]. A partir do momento em que um país entra em negociações para sair da Zona Euro, o que vai acontecer é uma corrida aos bancos", explicou.
Soromenho Marques prevê que as consequências da saída da Grécia do euro seriam "semelhantes ao que aconteceu na Argentina", no colapso financeiro no final da década de 1990.
Em primeiro lugar, "as pessoas ficam impedidas de ir aos bancos levantar as suas economias". Depois, a transição do euro para o dracma vai demorar, porque "não se consegue criar uma nova moeda com uma varinha mágica", o que significa que "vai haver racionamento".
Também o comércio da Grécia com o resto da Zona Euro "vai ficar interrompido", resume Soromenho Marques. Além disso, teme ainda que se assista a uma situação de "emergência alimentar na Grécia", o que seria "absolutamente dramático".
Recuperação em seis/oito anos
Jorge Landeiro Vaz, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), por seu lado, diz que "a Grécia vai voltar ao dracma, que vai ter uma desvalorização repentina, provavelmente na banda entre os 30 e os 40 por cento" face ao euro, uma flutuação que "tenderá a estabilizar num determinado prazo".
Atenas "continuará a ser apoiada" pela Europa, as importações vão encarecer e as exportações vão ficar mais baratas, acrescenta.
"É uma alteração estrutural da economia, mas julgo que a Grécia pode recuperar facilmente. Teria impactos fortíssimos nas finanças públicas, mas a Grécia pode ter uma recuperação a seis, sete, oito anos", por via do aumento da competitividade, antecipa o economista.
A concretizar-se, a saída da Grécia do euro abre um precedente. Soromenho Marques não tem dúvidas de que isso "vai instalar a desconfiança e instalar, dentro da União Europeia, um regime de soberanos e de súbditos, de Estados de primeira e Estados de segunda", ficando Portugal neste último grupo.
E Portugal?
"É mais credível que Portugal consiga negociar um segundo pacote de ajuda e se continuarmos com esta política desastrosa com certeza que seremos obrigados a isso, numa situação em que não há perdas anormais do que numa situação em que todos os países perderam milhares de milhões de euros e há uma desconfiança política entre os Estados muito maior", alerta o professor.
O economista Landeiro Vaz tem uma perspetiva mais pessimista: "Vamos sair do euro para o ano. A Grécia abre um precedente e, ou há um Plano Marshall, um plano especial de apoio à economia portuguesa, ou Portugal tem de sair também", afirmou.
Para o economista, "o plano de resgate que está em curso [em Portugal] conduz à mesma situação da Grécia", é um "plano fatal", mas "não é inevitável" que assim seja, uma vez que pode ser adaptado.
Soromenho Marques também é apologista da via do crescimento, a par da austeridade e espera que até às eleições legislativas na Grécia, a 17 de junho, "os líderes [europeus] tenham capacidade de convencer a senhora Merkel de que é do interesse nacional alemão moderar a política de austeridade, avançar no sentido da mutualização da dívida, do crescimento sustentável e do apoio às empresas".
Fonte: Visão