quarta-feira, 11 de maio de 2011

Crise: 6.200 pessoas criam empresas para sair do desemprego

Há 4.000 desempregados que optaram por receber o subsídio de desemprego de uma só vez e investiram na própria empresa. Mas o processo não está isento de críticas.

Isabel Amador e Teresa Goffin trocaram as voltas ao destino. Quando, há sete anos, a queda do mercado discográfico pôs em risco os seus postos de trabalho numa multinacional do sector, não ficaram de braços cruzados.

Pediram ao centro de emprego a antecipação de todos os subsídios de desemprego a que teriam direito e usaram o dinheiro para investir no seu próprio negócio. Abriram uma loja de flores com um conceito inovador. E não são um caso isolado: no ano passado, 6.262 desempregados recorreram aos apoios do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para criarem o própria empresa. E cerca de 4.000 pediram a antecipação do subsídio de desemprego para iniciar o negócio.

No caso de Isabel e Teresa, a decisão foi precedida de um estudo de mercado ‘forçado’. «Quando a empresa em que trabalhávamos começou a negociar a saída de funcionários, resolvemos pensar no que fazer da vida. Como gostávamos de flores, fomos ver o que havia no mercado e percebemos que parte do negócio não estava bem explorada», explica Isabel.

Foram a França visitar floristas e lá tiraram algumas ideias, que puseram em prática num pequeno espaço do Chiado, em Lisboa. Pétalas comestíveis, chás e geleias de flores e rosas em elegantes caixas de cartão foram algumas das novidades. Usaram o dinheiro do subsídio de desemprego para abrir a empresa e comprar o primeiro stock de produtos.

Estavam preparadas para não ter clientes nos primeiros dois meses, mas não foi preciso esperar tanto. No primeiro dia, fizeram a primeira venda. O negócio cresceu e mudaram-se há dois anos para um espaço maior, na rua Tomás Ribeiro, perto da Maternidade Alfredo da Costa.

As empresárias não têm dúvidas de que tomaram a opção certa há sete anos, mas agora também sofrem os efeitos da crise – há menos compras de clientes, entre os quais estão hotéis ou farmacêuticas que usam as flores para oferta. «O balanço é positivo, obviamente. Mas estamos a ver o que vai acontecer, porque não depende só de nós. Os clientes estão a retrair», diz Isabel.

As medidas anti-crise de 2009 e as restrições orçamentais posteriores conduziram a reformulações sucessivas de várias medidas de apoio ao empreendedorismo. O modelo actualmente em vigor prevê a interligação de várias ajudas, como microcrédito, linhas de crédito bonificado e antecipação de subsídios de desemprego.

22 milhões em apoios

Segundo dados do IEFP relativos a 2010, houve 2.588 desempregados a recorrer ao Apoio à Criação do Próprio Emprego e outros 1.413 à Linha de Apoio à Criação de Empresas e Emprego. Somam-se 2.261 beneficiários ainda abrangidos pelas Iniciativas Locais de Emprego. No total, o IEFP gastou 22 milhões de euros com estas medidas.

Contudo, este tipo de programas não está isento de críticas. António (nome fictício) recorreu, há dois anos, a um programa de empreendedorismo do IEFP, no sentido de iniciar actividade empresarial na área de fotografia, com antecipação do subsídio de desemprego. E, apesar de salientar a capacidade e o esforço do pessoal do IEFP e do gabinete de apoio da câmara municipal onde iniciou o processo, admite que «a máquina é muito pesada».

Entre apresentação de projectos, requerimentos, pedidos de documentação e reuniões e o período de férias de Verão, passaram sete meses até que o projecto fosse autorizado. «Uma ida ao centro de emprego para uma reunião chegava a ocupar um dia inteiro, com as filas», recorda. Caiu no desemprego quando a crise se agudizou e chegou a encontrar gerentes de empresas na fila de espera. E, com o aumento da procura destes programas, reparou que muitos recorriam a possibilidades de financiamento que o IEFP prevê nos programas, como o microcrédito ou o crédito bonificado.

Helena Mena, responsável pelas operações de microcrédito no Millennium bcp, explica ao SOL que há casos em que as prestações do desempregado são usadas como capital inicial dos projectos, em complemento aos empréstimos dados pelo banco. «Neste caso é necessário entregar o projecto ao BCP e também ao IEFP», revela. Segundo a responsável, metade das operações de microcrédito do BCP são projectos de desempregados, em que o banco não funciona apenas como financiador, mas como consultor. «O mais importante é o acompanhamento a nível de gestão, por exemplo».

Fonte: SOL

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